Quando um Kuikuro era filmado, tinha medo de não morrer mais e ficar pra sempre na Terra. Mas logo depois que viram o primeiro filme pronto, sempre pedem para serem filmados: querem se ver no telão. Querem viver para sempre!
Com estas palavras o jovem cineasta Takumã abre sua prática oficina
de áudio-visual. Ele nasceu no Parque Indígena do Xingu e é aluno
da Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro. Já dirigiu
alguns filmes, dentre eles o “Hiper Mulheres” vencedor de três
Kikitos no Festival de Gramado, e outros não menos interessantes
como “O dia em que a lua menstruou” e “Cheiro de pequi”. Os
três filmes foram projetados durante a oficina.
Ele diz que o vídeo é um importante instrumento que pode ser usado
como denúncia e documento. Registrando histórias, mitos, rituais,
contos, rezas, canções... Sua oficina foi dividida da seguinte forma:
- Manuseio da câmera:
- apresentou técnicas de uso e manipulação do equipamento;
- Também apresentou algumas especificações básicas de equipamentos que podem ser usados para um bom resultado final.
- Projeção de Material:
- apresentou três filmes:
- As hiper mulheres;
- O dia em que a lua menstruou;
- Cheiro de pequi.
- Função e importância:
- Dissertou sobre a importância do vídeo-documento:
- salvaguarda da cultura e língua;
- Intercâmbio entre povos;
- Divulgação cultural;
- Documento.
- Treinamento e documentadores:
- necessidade de se capacitar o pessoal envolvido.
- Como usar os equipamentos:
- cuidados (zelo);
- proteção contra intempéries (sol, chuva, umidade, poeira);
- cuidados com a lente (não tocar, nunca!).
- Câmera nas mãos:
- iniciar gravação entre 10 e 15 segundos antes do fato de interesse;
- Escolha da mídia;
- Programa de edição, finalização;
- Qualidade da gravação:
- SP (maior definição de imagem, melhor qualidade de som, usa mais espaço na mídia);
- LP (qualidade reduzida, usa menos espaço na mídia).
- Explorando a câmera:
- Bater branco:
- Sair do modo automático;
- Necessário para manter a cor das cores reais;
- Exposição à luz: diafragma e íris.
- Preparando a gravação:
- Posicionamento da câmera;
- Uso de tripé;
- Divisão em cenas: imaginar o produto terminado.
- Gravando:
- Quando o alvo está em movimento (pessoas caminhando) a câmera pode caminhar também;
- Quando alvo está parado, a câmera deve ficar parada;
- Nem sempre uma estória começa no início dela:
- A estória pode começar no meio ou no fim, ou com alguém contando;
- A edição pode inverter a posição das cenas.
Confesso
que muitas surpresas tive com a presença desse jovem Kuikuro, a
facilidade com que ele lida com a tecnologia, sua percepção da
sétima arte (o cinema), a sensibilidade, tudo isso me impressionou.
Takumã
representa o quanto os indígenas são capazes como qualquer outra
pessoa, basta ter oportunidade, incentivo, sem preconceitos.
Eu sou
um amante do cinema e do áudio-visual, fiz alguns cursos de
fotografia e participei de exposições. Tenho muito apreço às
pessoas que sabem distinguir a singeleza que é a luz, sua capacidade
de construir imagens por meio de equipamentos técnicos produzidos
pelo homem.
O cinema
é a arte de maior tecnologia, envolve fotografia, som, imagem,
movimento, cores, paisagens, e diversos outros elementos técnicos,
artísticos ou da natureza.
Aprendi bastante com o pouco tempo que tive com esse jovem xinguano, também pude relembrar alguns conceitos que já não usava a algum tempo, devido ao fato de ter deixado a fotografia para seguir a carreira ambiental com intervenção social.
Esta oficina fez reacender uma chama que havia dentro de mim, a de praticar a fotografia. Após ela eu tomei a decisão de comprar uma câmera novamente, e voltar a fazer meus ensaios fotográficos, e porque não, cinematográficos.
No futuro pretendo fazer um curta-metragem, para testar algumas técnicas que aprendi com Takumã e outros professores da sétima arte.
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¹ Tema de aula na disciplina "Questões Indigenistas na Contemporaneidade", 1º semestre de 2012. Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), Universidade de Brasília (UnB).
² Takumã Kuikuro, cineasta, é indígena xinguano da etnia Kuikuro.
Gostei demais de ler esse artigo, me lembrar desse jovem cineasta indígena. Poder expressar através das imagens um olhar, uma forma de ver e perceber o mundo é maravilhoso! Um caminho para os diálogos necessários.Abção Veronica
ResponderExcluirMaravilha Verô! O audio-visual é mesmo um caminho importante a ser explorado por nossos irm!ao indígenas. Abraços!
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