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Refúgio Biocultural e Redução Desnaturada

Mapeamento da Desterritorialização de Povos Indígenas no Leste e Sudeste do Brasil (1500-2024) 

Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo como parte dos requisitos para obtenção do grau de doutor em Ciências, modalidade Geografia, área Geografia Física.

Autor: Rodrigo Martins dos Santos (geógrafo, mestre em sustentabilidade junto a povos e territórios indígenas).

Título: Refúgio Biocultural e Redução Desnaturada: mapeamento da desterritorialização de povos indígenas no leste e sudeste do Brasil (1500-2024)

Palavras-Chave: Antropogeografia. Paisagem Biocultural. Biogeografia Cultural. Geografia Socioambiental. Diversidade Biocultural


Modelo de evolução dos Refúgios Bioculturais e da Redução Desnaturada.




RESUMO EM PORTUGUÊS

A presente investigação doutoral visou elucidar as complexas inter-relações entre a redução da biodiversidade e a diminuição da diversidade cultural, abordando especificamente o conceito de diversidade biocultural, conforme delineado por Maffi (2001) e Clark (2002). O escopo geográfico do estudo compreendeu os estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Sergipe. A pesquisa concentrou-se na identificação e mapeamento dos processos espaciais (como emergência, resistência, fragmentação e extinção) que configuram a dinâmica dessa diversidade biocultural, com atenção particular à delimitação de redutos e refúgios bioculturais e à explicação dos fenômenos que os afetam, com ênfase nas nações indígenas. A investigação adotou uma abordagem epistemológica holística, buscando superar as barreiras de segmentação e especialização típicas das disciplinas científicas, promovendo, assim, uma compreensão mais profunda da realidade complexa (Morin, 2003). A metodologia central consistiu na Antropogeografia (Ratzel, 1909; 1912), enriquecida pelos princípios críticos de Raffestin (1993), bem como por contribuições da Geografia Cultural (Sauer, 1925) e da Cartografia Sistêmica (Lacoste, 1988). Dos 82 mapas, 10 quadros e 9 tabelas produzidos, destacam-se aqueles que representam os territórios originários de oito famílias etnolinguísticas das 186 etnias registradas na região antes das invasões europeias, correlacionados com a biodiversidade predominante; bem como aqueles que apresentam, no período de 1500 a 2024, a retração dos territórios de biodiversidade e cultura e o avanço do desmatamento, evidenciando o processo de “redução desnaturada”. Os resultados finais documentam a existência de refúgios bioculturais de 34 povos indígenas remanescentes e de 14 comunidades tradicionais, indicando que a taxa de desmatamento nesses refúgios foi quatro vezes inferior à média regional nos últimos 24 anos. Isso evidencia o papel de guardiões que esses grupos sociais exercem na preservação da biodiversidade, mesmo em face desse processo de desnaturação. As conclusões apontam para a ameaça histórica à diversidade biocultural, resultante desse processo, instaurado inicialmente pelos núcleos estabelecidos pelos primeiros invasores europeus e atualmente intensificado pelas forças da globalização. Em síntese, esta pesquisa e os mapas produzidos contribuem para uma compreensão ampliada da diversidade biocultural no Brasil, além de fomentar sua conservação e fortalecer o empoderamento de povos indígenas e de outros grupos bioculturalmente estabelecidos, a exemplo de quilombolas e outras comunidades tradicionais, autênticos guardiões da biodiversidade.


ARQUIVOS COM A TESE

Clique aqui para baixar a tese. 

Clique aqui para baixar o anexo (mapas em tamanho A0).

A versão disponível acima foi revisada pelo autor em novembro de 2024. Para ter acesso a versão original visite o Banco Digital de Teses e Dissertações da Biblioteca Florestan Fernandes da Universidade de São Paulo, ou clique no link a seguir: <link ainda não disponível pela USP>.



BANCA EXAMINADORA


Banca-examinadora da tese: da direita para a esquerda: Marcos Bernardino de Carvalho; Sueli Angelo Furlan; Mônica Celeida Rabelo Nogueira; Cristiane de Assis Portela; e Rodrigo Martins dos Santos.

Data da Defesa Pública: 02 Set. 2024

Local: Sala da Pós-Graduação do Departamento de Geografia da Faculdade e Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo.

Orientadora (Presidente da banca-examinadora): Sueli Angelo Furlan (Bióloga e Geógrafa, mestre e doutora em Geografia Física). Professora do Programa de Pós-Graduação em Geografia Física da USP.

Examinador-interno: Marcos Bernardino de Carvalho (Geólogo e Geógrafo, mestre em Geografia Humana, doutor em Ciências Sociais). Professor do Programa de Pós-Graduação em Geografia Humana da USP.

Examinadora-externa: Mônica Celeida Rabelo Nogueira (Antropóloga, mestre em Desenvolvimento Sustentável, doutora em Antropologia). Professora do Centro de Desenvolvimento Sustentável da UnB.

Examinadora-externa: Cristiane de Assis Portela (Historiadoa, mestre e doutora em História). Professora do Departamento de História da UnB.


ÁUDIO-VISUAL DA DEFESA PÚBLICA

<Em breve>

Defesa Pública da tese "Refúgio Biocultural e Redução Desnaturada" por Rodrigo M. dos Santos. Filmado por Mariana Mendes de Sousa.

Clique aqui para baixar o vídeo da defesa pública <em breve>.

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Clique aqui para baixar a apresentação da defesa.




– ABSTRACT IN ENGLISH – 

Title: Biocultural Refugia and Denatured Reduction: Mapping the Deterritorialization of Indigenous Peoples in Eastern and Southeastern Brazil (1500-2024).

Keywords: Anthropogeography. Biocultural Landscape. Cultural Biogeography. Socioenvironmental Geography. Biocultural Diversity.

Abstract: The present doctoral research aimed to elucidate the complex interrelations between biodiversity loss and the decline in cultural diversity, specifically addressing the concept of biocultural diversity as outlined by Maffi (2001) and Clark (2002). The geographical scope of the study encompassed the states of São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia, and Sergipe. The research focused on identifying and mapping spatial processes (such as emergence, resistance, fragmentation, and extinction) that shape the dynamics of this biocultural diversity, with particular attention to the delimitation of biocultural strongholds and refuges and to explaining the phenomena that affect them, with emphasis on indigenous nations. The investigation adopted a holistic epistemological approach, aiming to transcend the segmentation and specialization barriers typical of scientific disciplines, thus fostering a deeper understanding of complex reality (Morin, 2003). The central methodology consisted of Anthropogeography (Ratzel, 1909; 1912), enriched by the critical principles of Raffestin (1993), as well as contributions from Cultural Geography (Sauer, 1925) and Systemic Cartography (Lacoste, 1988). Among the 82 maps, 10 charts, and 9 tables produced, notable examples include those depicting the original territories of eight ethnolinguistic families among the 186 ethnicities recorded in the region prior to European invasions, correlated with the predominant biodiversity; as well as those that portray, from 1500 to 2024, the contraction of biodiversity and cultural territories and the advance of deforestation, highlighting the process of "denatured reduction". The final results document the existence of biocultural refuges of 34 remaining indigenous nations and 14 traditional populations (peasants), indicating that the deforestation rate in these refuges has been four times lower than the regional average over the past 24 years. This highlights the role of guardians that these social groups play in the preservation of biodiversity, even in the face of this process of de-naturization. The findings point to a historical threat to biocultural diversity resulting from this process, initially established by settlements created by the first European invaders and currently intensified by the forces of globalization. In summary, this research and the produced maps contribute to an expanded understanding of biocultural diversity in Brazil, fostering its conservation and strengthening the empowerment of indigenous peoples and other bioculturally established groups, such as the quilombola (Afro-Brazilians) and other traditional populations (peasants), who are authentic guardians of biodiversity.



– RESUMEN EN CASTELLANO –

Título: Refugio Biocultural y Reducción Desnaturalizada: Mapeo de la Desterritorialización de los Pueblos Indígenas en el Este y Sureste de Brasil (1500-2024)

Palabras clave: Antropogeografía. Paisaje Biocultural. Biogeografía Cultural. Geografía Socioambiental. Diversidad Biocultural.

Resumen: La presente investigación doctoral tuvo como objetivo esclarecer las complejas interrelaciones entre la reducción de la biodiversidad y la disminución de la diversidad cultural, abordando específicamente el concepto de diversidad biocultural, según lo delineado por Maffi (2001) y Clark (2002). El alcance geográfico del estudio incluyó los estados de São Paulo, Río de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahía y Sergipe. La investigación se centró en la identificación y mapeo de los procesos espaciales (como emergencia, resistencia, fragmentación y extinción) que configuran la dinámica de esta diversidad biocultural, con especial atención a la delimitación de reductos y refugios bioculturales y a la explicación de los fenómenos que los afectan, poniendo énfasis en las naciones indígenas. La investigación adoptó un enfoque epistemológico holístico, buscando superar las barreras de segmentación y especialización típicas de las disciplinas científicas, promoviendo así una comprensión más profunda de la realidad compleja (Morin, 2003). La metodología central consistió en la Antropogeografía (Ratzel, 1909; 1912), enriquecida con los principios críticos de Raffestin (1993), así como con aportes de la Geografía Cultural (Sauer, 1925) y de la Cartografía Sistémica (Lacoste, 1988). De los 82 mapas, 10 cuadros y 9 tablas producidos, destacan aquellos que representan los territorios originarios de ocho familias etnolingüísticas de las 186 etnias registradas en la región antes de las invasiones europeas, correlacionados con la biodiversidad predominante; así como aquellos que muestran, en el período de 1500 a 2024, la retracción de los territorios de biodiversidad y cultura y el avance de la deforestación, evidenciando el proceso de “reducción desnaturada”. Los resultados finales documentan la existencia de refugios bioculturales de 34 naciones indígenas remanentes y de 14 comunidades tradicionales (campesinas), indicando que la tasa de deforestación en estos refugios fue cuatro veces inferior a la media regional en los últimos 24 años. Esto evidencia el papel de guardianes que estos grupos sociales ejercen en la preservación de la biodiversidad, incluso ante este proceso de desnaturación. Las conclusiones apuntan a la amenaza histórica a la diversidad biocultural, resultado de este proceso, instaurado inicialmente por los núcleos establecidos por los primeros invasores europeos y actualmente intensificado por las fuerzas de la globalización. En síntesis, esta investigación y los mapas producidos contribuyen a una comprensión ampliada de la diversidad biocultural en Brasil, además de fomentar su conservación y fortalecer el empoderamiento de los pueblos indígenas y otros grupos bioculturalmente establecidos, como los quilombolas (afrodescendientes) y otras comunidades tradicionales, auténticos guardianes de la biodiversidad.




– RÉSUMÉ EN FRANÇAIS –

Titre : Refuge Bioculturel et Réduction Dénaturée : Cartographie de la Déterritorialisation des Peuples Autochtones dans l’Est et le Sud-Est du Brésil (1500-2024)

Mots-clés: Antropogéographie. Paysage bioculturel. Biogéographie culturelle. Géographie socio-environnementale. Diversité bioculturelle.

Résumé: La présente recherche doctorale a visé à élucider les interrelations complexes entre la réduction de la biodiversité et le déclin de la diversité culturelle, en abordant spécifiquement le concept de diversité bioculturelle, tel que défini par Maffi (2001) et Clark (2002). Le champ géographique de l'étude comprenait les États de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia et Sergipe. La recherche s'est concentrée sur l'identification et la cartographie des processus spatiaux (tels que l’émergence, la résistance, la fragmentation et l'extinction) qui structurent la dynamique de cette diversité bioculturelle, avec une attention particulière à la délimitation des refuges bioculturels et à l'analyse des phénomènes qui les affectent, en mettant l'accent sur les nations autochtones. L'enquête a adopté une approche épistémologique holistique, cherchant à surmonter les barrières de segmentation et de spécialisation typiques des disciplines scientifiques, favorisant ainsi une compréhension plus profonde de la réalité complexe (Morin, 2003). La méthodologie centrale reposait sur l'Anthropogéographie (Ratzel, 1909; 1912), enrichie par les principes critiques de Raffestin (1993), ainsi que par les apports de la Géographie Culturelle (Sauer, 1925) et de la Cartographie Systémique (Lacoste, 1988). Parmi les 82 cartes, 10 tableaux et 9 graphiques élaborés, se distinguent ceux qui représentent les territoires d'origine de huit familles ethnolinguistiques des 186 ethnies recensées dans la région avant les invasions européennes, en corrélation avec la biodiversité prédominante ; ainsi que ceux couvrant la période de 1500 à 2024, illustrant la régression des territoires de biodiversité et de culture et la progression de la déforestation, témoignant du processus de « réduction dénaturée ». Les résultats finaux documentent l'existence de refuges bioculturels pour 34 peuples autochtones restants et 14 populations traditionnelles (paysannes), indiquant que le taux de déforestation dans ces refuges a été quatre fois inférieur à la moyenne régionale au cours des 24 dernières années. Cela met en évidence le rôle de gardiens que ces groupes sociaux exercent dans la préservation de la biodiversité, même face à ce processus de dénaturation. Les conclusions soulignent la menace historique pesant sur la diversité bioculturelle, résultant de ce processus, instauré initialement par les noyaux établis par les premiers envahisseurs européens et actuellement intensifié par les forces de la mondialisation. En synthèse, cette recherche et les cartes produites contribuent à une compréhension élargie de la diversité bioculturelle au Brésil, tout en encourageant sa conservation et en renforçant l’autonomisation des peuples autochtones et d’autres groupes bioculturellement établis, tels que les communautés quilombolas et autres populations traditionnelles, véritables gardiens de la biodiversité.

Mapeamento da desterritorialização etnolinguística no Sudeste e Leste do Brasil durante as primeiras invasões europeias

1500-1700 EC

 

RESUMO

Análise cartográfica do processo de desterritorialização etnolinguística de povos originários do leste de Abya Yala, e consequente territorialização de povos europeus invasores. A acelerada diminuição da diversidade linguística do planeta é marcante na globalização. Esse processo se torna evidente nas Américas a partir do final do século XV, com as invasões europeias. Mediante análises cartográficas e antropogeográficas busca-se entender qual era a distribuição geográfica das áreas etnolinguísticas, por meio das quais é possível apontar propostas de territórios e regiões etnolinguísticas no Sudeste e Leste do Brasil, nos dois primeiros séculos de invasão eurocidental. O presente texto apresenta proposta de mapeamento desses espaços a partir de fontes qualitativas ineditamente mapeadas, e aponta locais de onde partiu sua desfiguração. As conclusões são de que havia diversas porções desse espaço que poderiam ser consideradas hotspots etnolinguísticos, mas que foram eliminados por meio do processo de desorganização territorial ocasionado a partir do século XVI. Isso fortaleceu o que hoje é identificado como globalização.

 

INTRODUÇÃO

A expansão do capitalismo mundial consolidou-se como um dos mais fortes modificadores de paisagens, territórios e regiões geográficas. O processo de globalização ou mundialização (Raffestin, 1993) vem amplificando diversos fenômenos homogeneizantes, através dos quais estão sendo eliminadas culturas, línguas, espécies (vegetais e animais) e identidades ancestrais em favor de uma cosmologia (ou racionalidade) homogênea, europeizada (Ratzel, 1912: 191).

Em alguns meios, é propagada uma imagem idílica da globalização como fomentadora de um mundo sem fronteiras, que torna todos "cidadãos do mundo". Entrementes, na realidade, ocorre ao contrário, ela está eliminando a diversidade biológica e cultural existente. Sobre isto, Clark (2004) comenta que a cada mês duas línguas desaparecem no planeta. Isto levou a Organização das Nações Unidas (ONU) a declarar o ano de 2019, e a década de 2020, como das línguas indígenas. A expansão de um mundo globalizado, homogeneizado, elimina sua heterogeneidade, extinguindo espécies biológicas e sistemas culturais. A resistência indígena e de outras culturas locais ou marginalizadas, não corresponde apenas a uma reação visando à sobrevivência de um grupo étnico específico, mas uma resistência contra a força de homogeneização promovida pela globalização.

Nesse sentido, questionamos: qual era a distribuição geográfica das línguas e povos indígenas no Sudeste e Leste do Brasil (atuais estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Bahia e Sergipe) no momento das primeiras invasões europeias? O processo de desterritorialização etnolinguística dos povos originários no Brasil, foi iniciado após as primeiras invasões de europeus sobre seus territórios no século XVI, e continua até os dias de hoje. Trabalhos que buscaram mapear a diversidade e extensão das áreas etnolinguísticas originárias do Brasil (Loukotka, 1967; Nimuendaju, 2002; Kaufman, 2007) apresentam algumas lacunas de locais não mapeados por insuficiência de dados. Isso deixa vácuos na identificação da verdadeira extensão da área ocupada e do território dominado por determinada família linguística. Para superar essa deficiência, complementamo-las com o mapeamento inédito de informações qualitativas constantes de outras bases.

Com o objetivo de melhor entender como se deu o início dessa desterritorialização, nos apoiamos em análises antropogeográficas (Ratzel, 1909) com uso da cartografia. O olhar crítico das análises neste texto é inspirado na proposta da decolonização (Quijano, 2005), no sentido de repensar o processo de formação do território brasileiro sobre a multiterritorialidade de Abya Yala. É necessário que a história indígena seja mais bem contada nos livros didáticos, conforme prevê a Lei 11.645/08. Narrativas cartográficas auxiliam esse entendimento e pode embasar movimentos de emergência étnica e etnoterritoriais, bem como trazer à luz maiores evidências do passado colonial brasileiro.

(...)

Mapa 1 - Áreas etnolinguísticas no leste-sudeste do Brasil por volta de 1500 EC. Autor: DOS SANTOS, Rodrigo Martins (2021).

Mapa 1 - Áreas etnolinguísticas no leste-sudeste do Brasil por volta de 1500 EC. Autor: DOS SANTOS, Rodrigo Martins (2021).

 (...)

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Após esta análise preliminar, é possível afirmar que a diversidade étnica e linguística foi uma das principais características do Sudeste e Leste do atual Brasil. Havia nesse espaço, durante os primeiros dois séculos das invasões europeias, 265 etnias/povos indígenas, pelo menos.

Podemos dizer que havia duas macrorregiões etnolinguísticas: uma à oeste do São Francisco, dominada por povos de língua Jê; e outra à leste, com alta diversidade etnolinguística, possivelmente constituída pelos descendentes dos Antigos Brasileiros do Leste, os primeiros seres humanos que povoaram essa porção do planeta, falantes de línguas Puri, Borun, Maxakali, Kamakã e diversas outras. Eles compartilharam a porção norte dessa macrorregião com povos de língua Kariri, e o litoral e porções do São Francisco com povos de língua Tupi-Gurani. Também é notável a grande presença de zonas de contato etnolinguístico nessa macrorregião, sinalizando que havia intenso intercâmbio cultural ou disputa territorial no momento das primeiras invasões europeias.

Por fim, indubitavelmente, podemos considerar que havia, nessa porção do planeta, diversos hotspots etnolinguísticos. Estes, lamentavelmente, foram sendo eliminados, gradativamente, por meio do violento processo de desorganização territorial, movido, a partir do século XVI, pelos invasores eurocidentais. Este processo de desterritorialização etnolinguística fortaleceu o fenômeno que hoje é identificado como globalização. Reconhecer essa violência territorial e cultural sofrida pelos povos originários dos invasores europeus é uma premissa para a decolonização.

De resto, o presente texto abre para outras possibilidades de investigação, por exemplo: como apresentar territórios etnolinguísticos em livros didáticos? Qual a importância disso? É possível utilizar esse instrumento como forma de subsídio na autodeterminação territorial de povos originários e emergentes? Ou para a conscientização da população envoltória? Quais foram os territórios que sucederam a esta territorialidade originária? É possível construir análises semelhantes para a formação de territórios ou regiões culturais caipiras, sertanejas, caiçaras, quilombolas ou de outras comunidades tradicionais? Existe uma correlação entre zonas de maior diversidade etnolinguística com as de maior biodiversidade? Enfim, estas questões ficarão para outras investigações.

 

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Clique aqui para acessar o artigo publicado na edição 53 - 2021 da CONFINS - Revue Franco-Brésilienne de Géographie. DOI https://doi.org/10.4000/confins.42944. ISSN 1958-9212.

Interface Cultura-Biodiversidade na Geografia:

Contribuições da Antropogeografia e da Geografia Cultural


Rodrigo Martins dos Santos
Mariana Mendes de Sousa


RESUMO

 

O presente texto se desenvolve em torno da noção de "diversidade biocultural", cujo sentido apresenta elementos duma provável correlação entre biodiversidade e diversidade cultural, inclusive numa escala global, onde há descobertas que indicam similitudes em suas distribuições geográficas. No Brasil, alguns autores preferem usar os termos sociobiodiversidade ou biossociodiversidade para designar um sentido semelhante ao de diversidade biocultural. A diferença está, principalmente, no enfoque, se na diversidade, ou nos aspectos biológicos, culturais ou sociais. Mas o que todas têm em comum é a indissociabilidade do que é entendido por cultura do próprio sentido de natureza. Uma ontologia mais multinaturalista, onde todos os sujeitos (humanos ou não) compõem um o todo, o cosmos, e são manifestações da natureza; do que multiculturalista, onde os sujeitos entendem a natureza como um objeto externo a eles. No entanto, não se trata de ressuscitar um determinismo geográfico ou natural, tampouco contrapô-lo com um determinismo cultural ou sócio-histórico, mas sim buscar identificar elementos que nos ajudem a compreender as conexões bioculturais e socioambientais numa dimensão geográfica. Nesse sentido, o foco aqui será na diversidade em primeiro lugar, e em seguida, nos aspectos biológicos e culturais, estes, porém, não necessariamente nessa ordem. Isso será, sobretudo, num viés espacial, geográfico. Para isso, as categorias geográficas que mais serão aqui exploradas são a paisagem e o território. Na primeira parte do presente texto, apresentamos de uma forma suscinta duas escolas geográficas que tratam dessa temática: a Antropogeografia e a Geografia Cultural. Na segunda, discutimos algumas categorias de análise e conceitos desenvolvidos por elas que poderão auxiliar-nos numa melhor compreensão da diversidade biocultural no espaço geográfico, como os conceitos de área (de origem e difusão) cultural, paisagem cultural, território e territorialidade.


INTRODUÇÃO 

            O presente texto se desenvolve em torno da noção de "diversidade biocultural" a partir do sentido discutido em Maffi (2001), que apresenta elementos duma provável correlação entre biodiversidade e diversidade cultural, inclusive numa escala global, onde há descobertas que indicam similitudes em suas distribuições geográficas.

No Brasil, alguns autores preferem usar os termos sociobiodiversidade (DIEGUES, 2008 [1996]) ou biossociodiversidade (CARVALHO, 2000) para designar um sentido semelhante ao de diversidade biocultural. A diferença está, principalmente, no enfoque, se na diversidade, ou nos aspectos biológicos, culturais ou sociais. Mas o que todas têm em comum é a indissociabilidade do que é entendido por cultura do próprio sentido de natureza. Uma ontologia mais multinaturalista, onde todos os sujeitos (humanos ou não) compõem o todo, o cosmos, e são manifestações da natureza; do que multiculturalista, onde os sujeitos entendem a natureza como um objeto externo a eles (VIVEIROS DE CASTRO, 2004). No entanto, não se trata de ressuscitar um determinismo geográfico ou natural, tampouco contrapô-lo com um determinismo cultural ou sócio-histórico, mas sim buscar identificar elementos que nos ajudem a compreender as conexões bioculturais e socioambientais numa dimensão geográfica.

            Nesse sentido, o foco aqui será na diversidade em primeiro lugar, e em seguida, nos aspectos biológicos e culturais, estes, porém, não necessariamente nessa ordem. Isso será, sobretudo, num viés espacial, geográfico. Para isso, as categorias geográficas que mais serão aqui exploradas são a paisagem e o território.

            Na primeira parte do presente texto, apresentamos de uma forma suscinta duas escolas geográficas que tratam dessa temática: a Antropogeografia e a Geografia Cultural. Na segunda, discutimos algumas categorias de análise e conceitos desenvolvidos por elas que poderão auxiliar-nos numa melhor compreensão da diversidade biocultural no espaço geográfico, como os conceitos de área (de origem e difusão) cultural, paisagem cultural, território e territorialidade.

(...)


Friedrich Ratzel (esq.) e Carl Sauer (dir.), pensadores da Antropogeografia e da Geografia Cultural, respectivamente.

(...)

CONSIDERAÇÕES FINAIS 

            As propostas metodológicas e conceituais na Antropogeografia e na Geografia Cultural são de essência ambientalista e culturalista, simultaneamente. E, portanto, apresentam instrumental pertinente a estudos da diversidade biocultural no espaço.

            É necessário resgatar o papel holístico e sintético que essas escolas geográficas originalmente propuseram, para melhor entender o espaço humano, sobretudo as relações intrínsecas natureza-humanidade. Uma proposta que somente poderia florescer no seio de um campo dicotômico como é a Geografia.

            Esse resgate (ou reafirmação) pode contribuir para que a Geografia reencontre suas perspectivas multidimensionais complexas e globalizantes, conforme conclama Jacques Lévy. Pois a Geografia, essa bela incógnita como define Jean-Paul Allix, parece se envolver em tudo, na busca de discernir melhor como é o planeta, e como ele funciona.

  

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Artigo publicado nos anais do XIV ENANPEGE - Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, organizado pela ANPEGE - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia; e que ocorreu na cidade de Campina Grande-PB, em 2021. ISSN 2175-8875.

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Indígenas de Goiás na visão de Saint-Hilaire


No presente texto, busco analisar os registros do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire a respeito dos povos originários que viviam na então capitania de Goyaz no ano de 1819.

As bases epistemológicas do presente capítulo são inspiradas nas ideias das epistemologias do sul em Sousa Santos e Meneses (2010), que questionam a superioridade cultural do norte global e buscam dar visibilidade às culturas ausentes ou desdenhadas nas narrativas históricas estabelecidas por aqueles que invadiram territórios ou escravizaram povos para fi ns de se estabelecerem no topo do domínio econômico, social e cultural do mundo.

Assim, inicio o presente capítulo retratando o quadro dos povos indígenas visitados pelo referido explorador francês com uma análise sobre a resistência desses povos em relação aos invasores luso-brasileiros. Logo após, são retratados os aldeamentos (reduções ou presídios) indígenas visitados pelo viajante oitocentista, seguidos por análises sobre suas opiniões quanto ao regime sob o qual os nativos foram submetidos. Por fi m, as impressões de Saint-Hilaire em seus encontros com os povos originários em Goiás são analisadas.

O texto participa, portanto, da ideia de descolonização do pensamento latino-americano (Quijano, 2000), que busca dar visibilidade e voz, por meio de um viés decolonizante, às identidades latino-americanas marginalizadas pela cultura dominante, eurocentrista. Isso, sobretudo, em relação aos povos originários de Abya Yala, como é chamado o continente americano pelos povos nativos (Declaración de Kito, 2004).

(...)



Considerações Finais

Como vimos, a realidade dos povos originários em Goiás no momento da passagem do naturalista francês Auguste de Saint-Hilaire era dramática. Depois de 150 anos das primeiras invasões luso-brasileiras naqueles territórios no século XVII, suas condições de vida foram se deteriorando ano após ano, chegando ao ponto de o referido explorador prognosticar a eliminação total desses povos em pouco tempo.

Entrementes, o que vemos atualmente é um singelo fortalecimento da identidade e territorialidade indígena no país. Os poucos que sobreviveram ao genocídio e ao etnocídio, às duras custas, lutam pela garantia de sua sobrevivência enquanto povo etnicamente estabelecido, cujas raízes estão fincadasno solo de Abya Yala desde tempos pré-cabralinos.

A luta destes povos não acabou, e atualmente o avanço para o oeste da frente invasora retoma seu vigor mais forte do que nunca, na figura do mais cruel e arcaico agronegócio: desmatador, latifundiário, monoculturista e agrointoxicado. Entorpecidos por um suposto progresso que nunca vem, eles tentam a todo o custo esbulhar e desmatar os territórios indígenas, e transformar essas pessoas em mais lenha para sua fogueira, alimentada pela obsessiva privatização e destruição da natureza. Nada muito diferente dos tempos de Saint-Hilaire (1848, p. 293-294), que tomou partido em um dos lados da história:

Não nos devemos pois, admirar de que os portugueses (...) invejassem a terra dos índios; mas fi ca-se com o coração apertado quando se pensa em que não se quer deixar, sequer, algumas léguas, a esses que foram, ainda a tão pouco tempo, os senhores de toda a América.

Esse último excerto do naturalista que exponho aqui demonstra que esta luta não é só dos povos originários, mas de todos aqueles que prezam pela existência da maior riqueza que temos no planeta: a vida, diversa, bioculturalmente.



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(Disponível apenas na versão impressa)

Capítulo de Rodrigo Martins dos Santos publicado entre as páginas 247e 265 da obra BARBO, Lenora (org). Uma viagem pelo sertão: 200 anos de Saint-Hilaire em Goiás. Jundiái-SP: Paco, 2021.


Diáspora y migraciones de grupos indígenas de Brasil Central (de 1700 a 1900 AD)

Este texto presenta la diversidad multiétnica que existió en las tierras altas centrales de Brasil y las áreas circundantes. Para lograr esto, se recopiló información de etnocartografía, mapas históricos producidos durante los siglos XVIII y XIX, y el mapeo de datos históricos cualitativos que no habían sido mapeados anteriormente. La metodologí a se basa en la antropogeografí a de Ratzel (1909). El mapa final se ubica en el apéndice.

(...)



Conclusión

Este documento buscaba presentar la diversidad multiétnica que existía en las tierras altas centrales de Brasil y las áreas circundantes. En total, se identificaron 200 grupos que vivieron dentro de la región, de los cuales 112 ya estaban contenidos en el mapa de Nimuendaju. Entre los 88 agregados, 61 se identificaron en el mapa de Loukotka, mientras que 22 se localizaron a partir de la base de datos IBGE Cidades, y cinco se encontraron en ambas fuentes.

Esta investigación identificó 509 lugares donde se encontraban estos grupos étnicos, en los cuales 208 ya se mostraban en el mapa de Nimuendaju. Los otros 301 sitios se extrajeron de la siguiente manera: 154 del mapa de Loukotka, 139 de la base de datos IBGE Cidades y ocho tomados de mapas históricos, archivados en bibliotecas portuguesas y brasileñas. Ver el apéndice.

Actualmente, los pocos pueblos indígenas del bioma del Cerrado (sabana brasileña) están atrapados en pequeños fragmentos de biomas nativos que aún permanecen. Con el avance del monocultivo (soja, eucalipto y ganado) sobre estas áreas, seguramente desaparecerán, y con ellos un conocimiento que se originó hace más de 10 000 años en esta parte del mundo. Para evitar esto, es necesario idear estrategias para rescatar y mejorar el patrimonio cultural y natural del bioma del Cerrado, creando áreas protegidas y fomentando proyectos de recuperación etnoambiental, incluyendo a los pueblos indígenas como fuentes de información y como agentes en esta conservación. La educación etnohistórica de los niños no-indígenas es fundamental para revertir este proceso.



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(Disponível apenas na versão impressa)

Capítulo de Rodrigo Martins dos Santos publicado entre as páginas 348 e 354 da obra Debates actuales de la geografía latinoamericana: visiones desde el XVII Encuentro de Geógrafos de América Latina.  Coordenação Patrícia Polo-Almeida; Andra Carrión; María Fernanda López-Sandoval. Edição Associación Geográfica del Ecuador, Quito, 2019.

Diáspora y migraciones de pueblos originários en Brasil Central


(de 1700 a 1900 AD)


Resúmen

Presenta los resultados finales de nuestra investigación de maestría, que ubicó pueblos indí­genas que habitaron la Meseta Central de Brazil (desde el año de 1700 AD), y por lo tanto una parte de la sabana, antes de la invasión luso-brasileña hasta el año de 1900 AD.

Panel premiado con el segundo lugar de mejor póster del evento por el Comité Académico y Comité Organizador del XVII EGAL 2019.
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La metodologí­a se basa en la antropogeografí­a de Ratzel (1909), con el apoyo de la etnohistoria y asesoramiento de la cartografí­a. Fue utilizado como base el mapa etno-historico de Curt Nimuendaju que presenta un "vací­o" etnográfico en esta zona. Es aclarado un problema que es la insuficiencia de información cartográfica sobre quien eran y dónde estaban los pueblos indí­genas del Brasil Central, sobre todo en un polí­gono que abarca el noroeste y oeste del Estado de Minas Gerais, en todo el Estado de Goiás, extremo noreste de Mato Grosso y sudoeste de Pará, gran parte del Estado de Tocantins, la región sur de Maranhão y Piauí­, y Bahí­a occidental. Fue utilizado varios productos cartográficos como el mapa etnolingüí­stico del Čestmí­r Loukotka y mapas históricos disponibles en archivos públicos en Brasil y Portugal. También es realizado un mapeo inédito de la ubicación de los grupos étnicos enumerados en el histórico de la base de datos IBGE ciudades. Ademas, es recopilado desde esta fuente las fechas de colonización y fundación de pueblos y ciudades, para ilustrar el progreso Luso-Brasileño en el territorio indí­gena, así­ como el despliegue de los asentamientos por parte del Estado.

Las conclusiones son que hubó por lo menos 200 grupos étnicos en la meseta central del Brasil y las zonas adyacentes, añadindo 88 a los 112 que figuran en el mapa de Nimuendaju. Por medio de mapas es ilustrado la dinámica de ocupación indí­gena, con las migraciones, las diásporas y las desapariciones de decenas de estos grupos étnicos. La contribución de este trabajo consiste en fortalecer la territorialidad indí­gena en la historia del paí­s, especialmente en el centro de Brasil. Los resultados pueden ilustrar libros de texto y el contenido pedagógico de la historia y de la geografí­a, de acuerdo con la Ley 11.645/08 del paí­s. También pueden colaborar en los estudios sobre el origen étnica de las zonas rurales de Brasil. En general, hay al menos dos comunidades indí­genas emergentes, los Aricobé y los Xakriabá, es posible que tienga restos de otras comunidades, especialmente los Akroá, Cayapó y Guegue. La continuacion de esta investigación será presentada el la ponencia: "Reductos y refugios bioculturales en las fronteras de la globalización: sociobioterritorialidades en el este de Sudamerica durante y después de las invasiones europeas" en el EGAL 2019."

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Poster originalmente presentado en el XVII EGAL - Encuentro de Geografos de America Latina, organizado por la AGEc - Asociación Geográfica del Ecuadory que ocurrió en el campus de la Pontificia Universidad Catolica del Ecuador, en 2019.

Él póster foe premiado por la Comisión Científica del EGAL.

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Reductos y refugios bioculturales en las fronteras de la globalizacion

dinamicas sociobioterritoriales en zonas de contacto


Introducción

La expansión de la economía global de consumo, fase actual del capitalismo identificado como globalización (Santos, M. 2000), se consolidó como uno de los más fuertes modificadores de paisajes, territorios y regiones geográficas. Integrada a estas categorías destaco la disminución de la
diversidad biocultural en el planeta (Maffi, 2001). La globalización está amplificando diversos fenómenos homogeneizantes, eliminando culturas, lenguas, especies e identidades ancestrales a favor de una cosmología homogeneizante.

La idílica imagen de la globalización de crear un mundo sin fronteras, que hace a todos "ciudadanos del mundo", está en realidad eliminando su diversidad biológica y cultural. Sobre eso, Clark (2004) comenta que cada mes dos lenguas desaparecen en el planeta. Hecho esto que llevó a la Organización
de las Naciones Unidas (ONU) a declarar 2019 como el año internacinoal de las lenguas indígenas. La expansión de un mundo globalizado, homogeneizado, elimina su heterogeneidad, extinguiendo especies naturales y sistemas culturales. De esta forma, la resistencia indígena y de otras culturas
tradicionales o marginadas no es sólo una reacción por la supervivencia de un grupo étnico, sino una resistencia contra esa fuerza de homogeneización global.

Así, en este texto, serán presentados algunos resultados parciales de una investigación de doctorado que busca analizar el proceso de formação de reductos y refúgios bioculturares. Más especificamente a respecto de la desterritorialización de pueblos indígenas. En esta etapa preliminar de la investigación se presentarán los productos cartográficos que servirán de base para los análisis. El propósito final de la investigación será identificar si hay una relación entre la localización y distribución de comunidades indígenas/tradicionales y las islas de biodiversidad esparcidas por el área de estudio.

(...)
Mapa 9. Invasiones europeas en territorios indígenas,
centro-este de Brasil, de 1500 a 1700 AD 
Leyenda: Los colores corresponden a las familias lingúisticas. 
Fuente: Nimuendaju (2002 [1944]), Loukotka (1967; 1968), 
Campbell y Grondona (2012), IBGE (2019), Wikipedia (2019).

(...)

Conclusiones

Los mapas presentados son sólo esbozos preliminares, y serán mejor elaborados en el curso en la investigación doctoral que intenta discutir la presencia de reductos y refugios bioculturales en las áreas no alcanzadas por las frentes invasoras no indígenas. 

Nuestra hipótesis principal es que estos refugios se localizan principalmente en la región de frontera entre los diferentes niveles de dominación occidental que se ha ido consolidando a lo largo de los siglos. Es decir, las fronteras entre países, estados y municipios son lugares propicios para la formación de estos refugios, pues no cuentan con la presencia eminente de los entes federativos del Estado brasileño, éste que fue constituido, a su vez, a partir de acuerdos establecidos entre diversos poderes políticos y eclesiásticos europeos desde el final del siglo XV. 

Después de la confección de los mapas, iniciaremos análisis más profundizados sobre el proceso (des)territorializante, apoyándonos en las bases metodológicas de Raffestin (1993), en especial en lo que se refiere a las relaciones simétricas y asimétricas de comunicación y control, base de las
relaciones políticas, es decir, de poder.

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Artículo originalmente presentado en el XVII EGAL - Encuentro de Geografos de America Latina, organizado por la AGEc - Asociación Geográfica del Ecuadory que ocurrió en el campus de la Pontificia Universidad Catolica del Ecuador, en 2019.

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Os índios na cartografia histórica de Goyaz

O presente artigo procura analisar a etnogeografia presente na cartografia histórica de Goiás elaborada nos séculos XVIII, XIX e princípio do XX.

Inicio apresentando, de forma resumida, o papel da cartografia histórica para os estudos antropogeográficos. Em seguida, sigo para a análise de cartas catalogadas no presente GUIA e que apresentam alguma informação que concluí como relevante para o entendimento da localização dos povos ameríndios no momento da invasão, colonização e exploração do território pelos Luso-Brasileiros. As últimas das cartas que analiso não são históricas, mas elaboradas por mim, com base em documentos cartográficos e etnográficos.

Por fim, nas conclusões, teço uma comparação entre as informações contidas em cartas históricas e nos mapas etnográficos e o que considero de relevante na cartografia histórica para o entendimento da localização de povos indígenas em Goiás, deixando sugestões para novas pesquisas.


CONCLUSÃO

Com base nos mapas históricos analisados no presente artigo observa-se a recorrente referência a notáveis tribos na Capitania de Goiás no decorrer do século XVIII, são elas a Xavante (a noroeste), a Akroá (a noroeste), a Cayapó (a sudoeste) e Curumaré (na Ilha do Bananal). Além delas, que aparecem em praticamente todas as cartas que trazem registro de localização étnica na região nesse período histórico, há outros povos que são mencionados em pelo menos uma carta setecentista, como os Canoeiros (ou Avá Canoeiro), os Javaé, os Karajá e os Chicriabá (Xakriabá). E por fim, observando o "Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências", outras fontes ainda fazem menção aos Krixá, Xerente, Anicun, Goyá, Ushicrin, Naudez e Assú.

No século XIX, outras etnias começam a constar nos mapas. Ao norte de Goiás, constam os Apinajé,
Neraquagé, Puxiti, Piecobigê, Ponecategé, Prurecamecran, Canacategê, Crurecamecran, Piocamecran, Aigé, Crangé, Botica, Carahós e Temembos ou Pepuxis. Esse “surgimento” em Goiás pode ter ocorrido devido às “correrias” que os povos Timbira realizaram para oeste ao ver seu território nativo no sul do Piauí invadido por currais baianos, no século XVIII.

Ao longo do Araguaia, ou a oeste dele, também passam a ser registrados os Xambibuá, Itapirapé, Cururu, Mongari, Gradaú, Grapindayé, Guapingayé, Carajaú e Carajavis. Isso deve ter ocorrido devido ao maior conhecimento que os Luso-Brasileiros foram adquirindonessas regiões a partir do último quartel do século XVIII, após se concretizar as comunicações fluviais com Belém do Grão-Pará devido às expedições de Tomás de Souza. Pois no período áureo da mineração (segundo quartel do séc. XVIII) não se tinha muito interesse em atingir a região do baixo Araguaia, devido a inexistência de garimpos e abundância de "tribos hostis". Os aldeamentos (reduções ou presídios) registrados em mapas históricos são mais recorrentes nos mapas setecentistas. Dentre eles destacam-se aqueles construídos por bandeiras na primeira metade do século XVIII para Boróros e Parecís na estrada que ligava com a Vila de São Paulo, próximo aos rios Das Pedras e Pissarrão, e o formado por padres jesuítas denominado Sant'Anna, na mesma região do atual Triângulo Mineiro. Também há referência aos aldeamentos de Duro e Formiga próximo à Serra Geral, erigido para Akroás e Xakriabás; o Maria I, São José de Mossâmedes e Carretão de Pedro III para Cayapós, Xavantes e outros na região da capital Vila Boa de Goyáz; e o Nova Beira e Santa Maria, dentre outros ao longo do Araguaia, construídos para aprisionar Karajás e Javaés, mas que recebeu outros povos, e foram destruídos por uma confederação que envolveu Karajás e Jês.

Os mapas do século XIX em diante irão, cada vez mais, ilustrar estes aldeamentos como simples localidades, apagando a história indígena presente nesses presídios que serviram para povoar áreas com uma população ruralizada a partir da conversão de índios em agricultores, bem como combater índios “indolentes” que “impediam” o avanço da frente de expansão colonial. Mas que, na verdade, buscavam proteger seu território ancestral que ano a ano era invadido e usurpado pelos Luso-Brasileiros. 

Nos mapas do período inicial da República, o preconceito dos servidores do Estado em face dos poucos índios que resistiram vivendo em território emancipado do domínio brasileiro se manifestava 
nas cartas oficiais. O uso de termos como "região infestada pelos índios” se torna regra geral em todos os mapas analisados para o início desse período.

Por fim, o "Mapa Etnolinguístico do Planalto Central e adjacências”, elaborado recentemente em minha pesquisa de mestrado, encerra este artigo localizando etnias que não constam nos mapas históricos, mas que aparecem em outras fontes como relatos de viajantes, etnografias e, principalmente, nos históricos do IBGE (2012), ineditamente mapeados.

Assim, ficou revelado em cartografia que os povos Krixá e Xakriabá viveram no Distrito Federal, e os Xerente nas adjacências. Além disso, as etnias Anicun, Goyá e Ushicrin, à oeste da atual capital federal; Naudez e Assú, próximo a Serra Geral; e Kenpokatajê, Macamecran e Krikati, no norte da antiga Província de Goiás, adicionam informações etnonímicas e de etnolocalização além das encontradas nos mapas históricos apresentados neste GUIA.

Apesar de não ter sido explorado neste artigo, uma pesquisa toponímica poderá indicar a morada de outras etnias. Por exemplo, a Serra do Caiapó recebeu este nome devido à presença de índios homônimos. O rio Crixás, Chavante, Caiapó e Tapirapé também indicam que nesses locais existem ou existiram as respectivas tribos. Até mesmo o nome de localidades como Anicuns, Crixás e Caiapônia, rememora a presença indígena na região.

Com este artigo, podemos ver que a diversidade étnica de nosso país era muito maior do que vemos hoje, e que os mapas históricos podem nos ajudar a desvendar quem eram e onde estavam os povos originários de nosso país, desde que o pesquisador tenha um olhar crítico sobre a obra, pois por se tratar de mapas, produtos do intelecto humano, estão arraigados de ideologia. E, portanto, ao invés de esclarecer, podem suscitar outras dúvidas.


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Povos do Planalto Central e adjacências nos séculos XVII, XVIII e XIX


Resumo
O artigo localiza povos indígenas que habitavam o Planalto Central e regiões adjacentes nos séculos  XVII, XVIII e XIX. São utilizados como fonte o mapa etnohistórico de Curt Nimuendaju e o etnolinguístico de Čestmír Loukotka. Também é realizado um mapeamento inédito da localização de etnias constantes nos históricos municipais do banco de dados IBGE cidades. São ilustradas, por meio de mapas temporais as sucessivas ocupações indígenas da região em intervalos de 50 em 50 anos, desde o ano de 1700 até o ano de 1900. As conclusões são de que houve, pelo menos, 200 etnias no Planalto Central e adjacências.

Palavras-Chave: Etnogeografia; Cartografia Indígena; Índios; Brasil Central.


Introdução

O primeiro estudo relevante preocupado em mapear a localização dos povos indígenas no Brasil é devido a Carl Martius (1867a). O referido autor agrupou todas as famílias linguísticas indígenas brasileiras que se tinha notícia. Foi a primeira vez que se usou o termo “Gê” para se denominar a família linguística atualmente chamada no Brasil de Jê, sua escolha baseou-se no fato de que grande parte dos povos falantes das línguas dessa família utilizam o termo Gê para se autodenominar, como Apinagez, Crangez (Senna, 1908:14), dentre outros como, Kempokatagê, Piocobjê, Kemkatejé, Kanakatejé, Krengez etc.

A família linguística Jê abrange a maioria dos povos que vivem (e viveram) nos cerrados goianos, mineiros, baianos, maranhenses e piauienses, chamados no presente artigo de Gerais do Planalto Central, na época das invasões luso-brasileiras. Além deles, alguns tupis, kariris, pimenteiras dentre outros, também estiveram presentes de alguma forma (Santos, 2013).


Mapa Etno-linguístico do Planalto Central e adjacências - por volta do ano de 1700 d.C.
Mapa Etno-linguístico do Planalto Central do Brasil e adjacências - por volta do ano de 1700 d.C.

Conclusão

O presente artigo procurou apresentar por meio de mapas e quadros a multietnicidade que existiu no Planalto Central e adjacências. Ao total foram identificados 200 povos na região, destes, 112 já constavam no mapa de Nimuendaju. Dos 88 adicionados, 61 foram identificados no mapa de Loukotka, 22 nos históricos municipais do IBGE, e 5 em ambas fontes. 

Ao total foram 509 locais onde situavam estas etnias, apresentados nos mapas finais, sendo que 208 já constavam no mapa de Nimuendaju. Os 301 novos locais foram extraídos da seguinte forma: 154 no de Loukotka, 139 nos históricos municipais e 8 em cartografia histórica.

Atualmente os poucos povos indígenas do Cerrado estão encurralados nos pequenos fragmentos do bioma que ainda restam. Com o avanço da monocultura sobre essas áreas, certamente eles desaparecerão, e com eles, um conhecimento que vêm de mais de 10.000 anos sobre essa porção do planeta Terra. Para evitar isso é necessário estratégias de resgate e valorização do patrimônio cultural e natural do Cerrado, criando áreas protegidas e fomentando projetos de valorização etno-ambiental, incluindo aí os povos indígenas como fontes de informação e como agentes nessa conservação.

A educação da nossa sociedade é fundamental para se reverter esse processo. É preciso que nossas crianças saibam do passado incidido sob o território de suas atuais moradas. Povos sofreram para que a nossa sociedade nacional pudessem ter e ser o que é hoje. É parte de nossa identidade esse nosso passado. Os erros foram nossos e, portanto, temos que corrigi-los.

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Artigo publicado nos anais do 2.º Simpósio Brasileiro de Cartografia Histórica, organizado pelo Centro de Referência em Cartografia Histórica da Universidade Federal de Minas Gerais; e que ocorreu na cidade de Tiradentes-MG, em 2014.

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