PRIORIDADES DO MOVIMENTO INDÍGENA


O jovem líder Kaingang, Romancil Kretã¹, diz que os maiores desafios do movimento indígena atualmente  (início de 2012) são:

1. Conhecimento e garantia dos direitos;
2. Gestão ambiental-territorial (GAT) – garantir a sustentabilidade da terra.

Da mesma forma que Sidney Umutina da COIAB defendeu em uma apresentação, Romancil argumentou que o Brasil quer ser a 5.ª potência econômica do mundo à custa da sociobiodiversidade do país.

Ele disse que o crédito carbono dos Munduruku são também uma estratégia de proteção da terra. Pois há interesse do governo em minerar ou implantar hidroelétricas em suas terras, e estes acordos internacionais podem trazer mais empecilhos a estes projetos, protegendo e resguardando a floresta e modo-de-vida dos indígenas.

Quanto a recente polêmica surgida após a APIB se posicionar contra a nomeação da demógrafa Marta Azevedo para a presidência da FUNAI, Kretã disse que a contra-carta assinada por Davi Kopenawa e o cacique Justino Xavante não foi escrita por eles. “Há indigenistas por trás! Que querem confundir e desarticular ainda mais o movimento indígena no Brasil.”

Vitor Peruare (Bakairi), meu colega de curso, defendeu que “se querem fazer hidroelétrica em terra indígena, então que dividam os benefícios enquanto estiver usando-a. Quando deixarem de pagar, que parem de usá-la então.” Eu particularmente achei uma idéia brilhante, pois nunca tinha ouvido falar de divisão dos benefícios do uso do potencial energético de um rio. E é o mesmo princípio do que já se faz com a mineração. Seria uma estratégia interessante, pois colocariam os indígenas como sócios do empreendimento. Uma temática que merece maior aprofundamento pelos estudiosos do assunto.

Voltando ao palestrante, ele disse que 

“as grandes agroindústrias [Cargil, Bunge, Monsanto, etc.] não podem mais plantar em suas terras e vem plantar na nossa! Trazendo doenças... São empresas holandesas, americanas, que não se preocupam com a saúde das pessoas ou do lugar.”

Kretã representa uma geração de líderes que estão aprendendo a lidar com o mundo institucional e burocrático do Estado brasileiro. Assim como a nossa colega de curso Samantha Tsitsinã que é filha do ex-deputado federal Mário Juruna, Romancil é filho de uma importante liderança indígena do sul país: Ângelo Kretã, morto em um acidente de automóvel no Paraná há mais de 30 anos, aparentemente forjado por poderosos daquele Estado (em plena ditadura militar).

Ele diz que o seu despertar para a mobilização política veio muito tarde, não teve a oportunidade de conversar com seu pai, que morreu quando ele ainda era muito jovem. Quando soube da importância que teve seu progenitor para a história indígena recente, decidiu entrar no movimento.

Sua apresentação foi uma aula de comportamento político, refleti a partir de sua história e atuação como se dão as transformações políticas em nosso país. Algo muito lento, repleto de injustiças. Coisa que eu já sabia, mas a reflexão que ele nos possibilitou trouxe mais luz sobre que caminhos podemos tomar, quais ações e em que momento. Todos esses fatores devem ser observados na militância para a transformação da sociedade.

Acredito que no futuro Romancil Kretã esteja liderando um movimento de mobilização nacional mais organizado, compartilhando os benefícios com outras lideranças, e abrindo caminho para a juventude que se prepara, como a jovem Tsitsinã.

A tão sonhada articulação dos indígenas brasileiros, representada na figura da APIB, pode ainda não ser real neste momento, mas tudo é uma questão de tempo. E paciência é uma das maiores virtudes dos indígenas.


Pós-Escrito: No final de 2012 diversas lideranças indígenas anunciaram a intenção de fundar o Partido Indígena Brasileiro no ano de 2013. Torço para que dê certo.

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Tema de aula na disciplina "Questões Indigenistas na Contemporaneidade", 1º semestre de 2012. Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS)Universidade de Brasília (UnB).
¹ Romancil Kretã, liderança do povo Kaingang, integrante da ARPIN-Sul (Articulação dos Povos Indígenas da Região Sul) e da APIB (Articulação dos Povos Indígenas do Brasil).


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