Lylia
Galetti¹ é responsável pela implantação da PNGAT (Política Nacional de Gestão
Territorial e Ambiental de Terras Indígenas) dentro da FUNAI. Ela defendeu em palestra no CDS-UnB² que o
conceito de desenvolvimento é usado pelos Ocidentais para qualificar o grau de
avanço tecnológico e social dos povos. Esses Ocidentais consideram que o maior grau de
desenvolvimento é o vivido pelas próprias sociedades ocidentais europeias, e a
partir dessa referência submetem as outras culturas.
Esse conceito tomou corpo
e força em meados do século XX. Antes dele, era usado o conceito de civilização
e progresso, mas basicamente com o mesmo princípio, ou seja, o modelo eram as
sociedades europeias.
Lylia qualifica o Brasil como um Estado dominado por latifundiários e pelo grande
capital, onde uma elite arrogante desrespeita a diversidade etno-cultural do
país. Uma elite formada por pensadores e políticos colonizadores.
O etno-desenvolvimento é um conceito que surge a partir do debate sobre modelos de desenvolvimento, de bem-estar, de qualidade-de-vida. Foi consagrado como sendo uma ideia que respeita a etnicidade, ou seja, os padrões e formas de outras culturas que não apenas as ocidentais.
Segundo a historiadora, o Estado brasileiro não olha os povos indígenas como parte de seu corpo, mas um resquício de uma pré-história, conquistada pelos colonizadores, e que tende a desaparecer, e se diluir na cultura nacional. Mas nos últimos anos, principalmente a partir da última Constituição (1988), gradativamente essa ideia vem sendo combatida por pensamentos mais progressistas, como a do etno-desenvolvimento.
O PNGAT é uma política vinculada a essa ideia de etno-desenvolvimento. E representa a mais recente política indigenista do Estado brasileiro, bastante
esperada por diversas lideranças indígenas, como Ângelo Kretã (veja aqui matéria sobre seu posicionamento).
Eu atuo com a questão ambiental a cerca de 10 anos, e vejo no PNGAT um casamento perfeito entre a sustentabilidade e o indigenismo.
A gestão territorial sustentável do espaço já é aplicada pelo Ministério do Meio Ambiente nas unidades de conservação, cujos principais instrumentos são o zoneamento, o plano de manejo e o conselho gestor. Faltava o Estado fornecer subsídios que possibilitasse a mesma prática nas terras indígenas.
Pois, assim como as cidades possuem um plano diretor, as terras indígenas necessitam de um diploma legal que conduza o planejamento do uso e ocupação de seu espaço.
No entanto, diferente dos planos de manejo das unidades de conservação, ou dos planos diretores das cidades, o PNGAT tem como fundamento a etnicidade, ou seja, a forma como se dará essa gestão deve respeitar a especificidade de cada grupo étnico. Não pode haver um modelo pronto, em que todas as nações indígenas devam seguir. Em cada caso deverá se conhecer e se aprofundar sobre seu próprio formato de gestão.
Minha expectativa é de que com este instrumento mais indígenas se organizem e participem da gestão de suas terras, e possam desenvolver suas ciências e tecnologias para resolver seus próprios problemas, recebendo apoio do Estado para isso.
E nós, os Ocidentais, podemos ganhar muito com isso. Teremos nossos irmãos índios vivendo com mais autonomia em suas terras, e poderemos aprender com eles novas formas de se perceber, usar e gerir o espaço.
__________
¹ Historiadora, doutora em história, coordenadora de Gestão Territorial da FUNAI.
² Tema de aula na disciplina "Questões Indigenistas na Contemporaneidade", 1º semestre de 2012. Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), Universidade de Brasília (UnB).
² Tema de aula na disciplina "Questões Indigenistas na Contemporaneidade", 1º semestre de 2012. Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS), Universidade de Brasília (UnB).
Muito importante Rodrigo! Também acredito nesse avanço epistemológico e politico...rumo a diversidade e sustentabilidade...por isso trabalhamos duro!abção
ResponderExcluirRODRIGO, GOSTEI MUITO DA INFORMAÇÃO. ACREDITO, COMO MILTON SANTOS, QUE OS POBRES DO MUNDO, É QUE VÃO MUDAR OS RUMOS DAS COISAS. CONCORDO EM TUDO COM A HISTORIADORA. HOJE, AS U.C. DE USO SUSTENTÁVEL, POUCO PENSAM NAS COMUNIDADES DAS POPULAÇÕES COM MODO DE VIDA TRADICIONAL QUE VIVEM NELA. NÃO HÁ UM PLANEJAMENTO DIFERENCIADO NO QUE TANGE A SAÚDE E EDUCAÇÃO, QUE CONSIDERO BÁSICOS PARA QUEM PAGA ALTO PREÇO PELA CONSERVAÇÃO. ESSAS POPULAÇÕES, QUE NÃO TEM DIFERENCIAMENTO ÉTNICO, É POPULAÇÃO MISTURADA, COMO AFIRMA DEBORAH LIMA - UFMG, MAS TRAZ FORTE CONHECIMENTO E SABERES QUE DEVERIAM SER RESPEITADOS. MAS NÃO É ASSIM. MESMO JÁ TENDO UM DECRETO 6.040, QUE INSTITUI A POLÍTICA NACIONAL DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DOS POVOS E COMUNIDADES TRADICIONAIS, NÃO HÁ DISCUSSÃO SOBRE O ASSUNTO. SE HÁ, É MUITO INSÍPIDA.A SAÚDE, COMO UMA CAIXA PRETA, COM UMA METALINGUAGEM QUE SÓ QUEM É DE DENTRO COMPREENDE. CONCEITOS VELHOS, SEMPRE REEDITADOS. DIGO, INFELIZMENTE. O ETNODESENVOLVIMENTO SERIA UM AVANÇO, JÁ QUE CONSIDERARIA O PENSAMENTO, A COSMOVISÃO DOS "OUTROS" E SAIRÍAMOS DA REEDIÇÃO OCIDENTAL DE MUNDO.
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