Tecnologia, Sociedade e Sustentabilidade


“não morremos, apenas eu e tu e a solidão morre”
 
Epitáfio de Vilém Flusser, Praga.

Bartholo Júnior¹ afirma que a escrita foi a grande descoberta para o desenvolvimento da comunicação, da interlocução, da transmissão do conhecimento e da informação, através do registro da idéia. Este registro da idéia evoluiu e atualmente possuem-se diversas ferramentas avançadas, como as ilustrações técnicas, apresentadas como outra possibilidade de encontros e moldações de Eus, transformando-os através da interação. O filósofo tcheco Vilém Flusser apresenta esta idéia antes mesmo da existência da rede internacional de computadores, diz que o Eu é um nó em uma rede, mas não é fixo, se desenha e se redesenha pela comunicação. Ele vivenciou as eras do rádio e da televisão, desenvolvendo o conceito de “discurso anfiteatral”, onde existem diversos pontos em contato com uma idéia, simultaneamente.

Aquele velho pensamento em linha, com textos produzidos, estão se re-moldando no aproveitamento da superfície com as imagens digitalizadas. No entanto, surge a tecno-imaginação, ou seja, a tutela da imaginação através de meios técnicos. Trazendo um novo desafio: a ruptura da tutela na capacidade de imaginar.

A crítica fluseriana da tecno-informação observa que surge então uma nova forma de relação de poder entre programadores e programados, tendo o meio dessa relação a programação. Mas interatividade não é o mesmo que dialogicidade, ou seja, não há mão-dupla nas comunicações, troca de idéias entre os interlocutores. Assim, até que ponto ter uma tecnologia (como o Ipod) importa para a relação de comunicação pretendida. Levando a seguinte reflexão:

•    O que temos para dizer?
•    É algo importante?
•    Como transmitir então?

Flusser percebeu que tudo pode ser transformado, sua vida é um exemplo disso. Nasceu e viveu em Praga, com segurança, no entanto, logo que os nazistas a ocuparam tornou-se impossível permanecer por lá, pois era judeu. Assim, foi desterrado, imigrando para o Brasil em 1940. Em 1972 exila-se na Europa, devido ao regime autoritário brasileiro. Falece em 1991 – em acidente de trânsito – curiosamente ao visitar sua cidade natal para conferenciar. Ele Pensava em novas possibilidades para o modo de dizer, que vão além da gramática, mas envolvem a tecnologia. Algo que foi necessário para sua interação com pessoas de outros idiomas.

A partir da filosofia do estadunidense Richard Rorty, que analisa as verdades e inverdades dentro dos discursos, é possível observar que a permanência em discursos pré-existentes, a ausência de crítica ou de dialogicidade, impede o surgimento de novas formas de se pensar e agir. Novos discursos e liberdade de pensamento surgem quando há novas formas de expressão. Por isso a necessidade da poesia, não apenas a prosa, para dar a possibilidade do uso da imaginação quando se exprime idéias que tenham co-relação em outras pessoas.

Relações novas e possíveis com o mundo surgem da invenção de modos de poder compartilhas idéias, e as tecnologias são algumas das ferramentas para isso, não o fim. O lugar da vida é nas relações.

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¹ BARTHOLO JÚNIOR, Roberto dos Santos. [palestra] 14 jul 2010, Brasília (Seminários Interdisciplinares, Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília).TECNOLOGIA, SOCIEDADE E SUSTENTABILIDADE.

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