V CBUC 2007 é marcado por preservacionismo e protesto de funcionários do IBAMA


O Congresso foi marcado por protestos de alguns chefes de Unidades de Conservação Federais, e pela hegemonia do pensamento preservacionista (radical em relação ao uso da natureza pelo homem) em detrimento do conservacionismo (visão que aplica o conceito de desenvolvimento sustentável nas ações de proteção à natureza).

Ocorreu em Foz do Iguaçu, entre os dias de 17 e 21 JUN 2007, o V CBUC (Congresso Brasileiro de Unidades de Conservação), evento organizado desde 1997 pela Fundação OBoticário de Proteção à Natural (FPBN), e que reúne bianualmente grandes nomes nacionais e internacionais sobre o planejamento e gestão de áreas protegidas, como o canadense Nikita Lopoukhine (foto), diretor da Comissão Mundial de Áreas Protegidas da IUCN (The World Conservation Union).

Servidores do IBAMA protestam contra a divisão do órgão, no V CBUC, em 2007.

Durante o evento, alguns funcionários do IBAMA – chefes de unidades de conservação (UCs) federais, grande parte de Parques Nacionais – organizaram diversos atos para demonstrar sua insatisfação quanto a posição do Governo Brasileiro em criar o Instituto Chico Mendes, que ficou com algumas das antigas funções do Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis (IBAMA). Basicamente, o [Instituto] Chico Mendes ficou com a gestão das unidades de conservação federais (como os parques e as APAs), e o IBAMA com a parte de fiscalização ambiental e licenciamento de empreendimentos que geram impactos ao Meio Ambiente.

Também foi marcante a posição dos organizadores do evento, dentre eles a AVINA (consultoria internacional de meio ambiente), quanto a gestão de áreas protegidas, que foi a mesma difundida no século XIX, ou seja, de que a natureza não pode conviver com o ser humano, assim, as áreas protegidas não podem sofrer qualquer tipo de uso direto dos recursos naturais ou ocupações humanas (inclusive indígenas). Houveram críticas à categoria de APAs (Áreas de Proteção Ambiental), um tipo de UC onde se é previsto a proteção do meio ambiente com o uso direto de seus recursos, desde que observado os objetivos de criação da Unidade, e respeitando a idéia da sustentabilidade, prevista no documento global (Agenda21) assinado por mais de 170 países na ECO’92, no Rio de Janeiro. O MST (Movimento dos Trabalhadores Sem Terra do Brasil) também foi foco de críticas no evento, devido algumas ações de ocupação que ele realiza em áreas protegidas. Outro alvo foram os indígenas, devido à prática de caça realizada por alguns grupos.

A falta de discernimento, no CBUC, entre as bem-sucedidas experiências de assentamentos de reforma agrária que respeitam o meio ambiente; de APAs que conciliam preservação e desenvolvimento sustentável; e da grande contribuição que a maioria das Terras Indígenas trazem ao país pelo seu papel de proteção ao meio ambiente criou um certo desconforto entre alguns participantes do evento e a organização.

Também ficou ausente no Congresso, discussões sobre a questão da sustentabilidade das áreas protegidas no Brasil, pois pouco foi o espaço dado aos projetos de desenvolvimento sustentável em Unidades de Conservação, ou de UCs de uso sustentável.

O foco do Evento foi em torno dos Parques Nacionais brasileiros, pouco se tratou de outras categorias de Unidades de Conservação, com exceção das RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), que nesta versão do Congresso, foram apresentadas como uma alternativa aos proprietários que desejam preservar suas áreas, sem torna-las públicas.


As moções apresentadas ao final do evento também foram pouco significativas, foram basicamente a expansão de diversos Parques Nacionais, a criação da profissão de guarda-parque no Brasil, e o repúdio à separação do IBAMA nos moldes apresentados.

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Texto originalmente publicado no blog do Greenpeace em 2007, quando o autor - Rodrigo Martins dos Santos - era um dos colunistas.

MEMÓRIA XAKRIABA: migrações e mudanças alimentares

Rodrigo Martins dos Santos
Santo Caetano Barbosa, Cacique Xakriabá da aldeia Morro Vermelho (Catito)


Resumo
Apresentamos elementos da alimentação da etnia Xakriabá a partir de relatos orais de seus anciões de aldeias, no município de São João das Missões, Minas Gerais. A pesquisa visou responder às seguintes questões: Quais eram os alimentos (ingredientes e pratos) que existiam no passado e que, atualmente, não fazem mais parte da alimentação do  povo Xakriabá? Quais fatores contribuíram para essa transformação alimentar? Utilizamos a  técnica  da história de vida, por meio de registro de entrevistas com questões abertas.  Ferramentas de representação geográfica foram utilizadas na  análise espaço-temporal, no entanto, grande parte dos dados registrados e apresentados são de caráter  etnográfico, demonstrando uma transdisciplinaridade presente no estudo. A conclusão é  de  que muitas espécies nativas, utilizadas na alimentação dos antigos indígenas dessa etnia, desapareceram das roças de seus descendentes, bem como, grande parte dos pratos da culinária tradicional. Os motivos foram: o abandono de áreas tradicionais, devido à pressão do avanço da frente colonial-pecuarista dos luso-brasileiros  sobre o território tradicional Xakriabá, e, mais recentemente, a chegada de alimentos industrializados. 

Palavras-Chave: Alimentação, Oralidade, Indígena, Xakriabá.




Em 2012.
Localização do território Xakriabá em 2012. Org. Rodrigo Santos. 


Abstract
We present elements of the diet of  the Xakriabá, an indigenous ethnic group, according to their elders' oral accounts, collected in villages of  the municipality of São João das Missões, State of Minas Gerais, Brazil. The aim of this research, based on semi-direct interviews and life histories, was to answer the following questions: What kind of food (and ingredients) that they had in the past are no longer part of their diet? Which factors have contributed to diet change?  Tools geographical representation were used to analyze space-time, however, much of the recorded and presented data are ethnography, demonstrating a transdisciplinarity in this study.  As a conclusion, many native food species are no longer cultivated, and most dishes of their traditional cuisine have disappeared. The main reasons for these changes are, first, the pressure caused by  the Luso-Brazilian colonizing front, and then, the arrival of industrialized food.

Keywords: Food, Oral History, Amerindians, Xakriabá.


Résumé
L’article présente l’alimentation des Indiens Xakriabá, à partir de témoignages oraux de membres âgés de cette ethnie  recueillis à São  João das Missões, dans  l’état de Minas Gerais, au Brésil. L’objectif de la recherche, menée à partir d’entretiens semi-directifs et de recueils d’histoires de vie, a été de répondre aux questions suivantes: Quels  aliments (ingrédients et plats) consommés dans le passé ne font plus partie de l’alimentation actuelle des Xakriabá? Quelles sont les causes de ces changements?  Outils de la représentation géographique ont été utilisés pour analyser l'espace-temps, cependant, la plupart des enregistrées et présentées données sont ethnographie, ce qui démontre une transdisciplinarité dans cette étude.  En conclusion, de nombreuses espèces végétales, utilisées dans l'alimentation traditionnelle de ce groupe amérindien, ne sont plus cultivées aujourd’hui, et de nombreux  plats qui leur étaient associés ne sont plus cuisinés. Les causes principales sont, d’une part, l’avancée du front de colonisation luso-brésilien qui, à partir du 17e  siècle, a progressivement repoussé les Indiens en marge des meilleures terres et, d’autre part, plus récemment,  l'arrivée des aliments industrialisés. 

Mots-Clés: Alimentation, Oralité, Amérindiens, Xakriabá.



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Clique aqui para acessar o artigo original, publicado na revista Ateliê Geográfico - ISSN: 1982-1956, v. 6, n.3 (Ed. Especial), out/2012, p. 72-94, editada pelo Instituto de Estudo Sócio-Ambientais, da Universidade Federal de Goiás.

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A Importância do Avatí Kyry (Batismo do Milho Branco) para a Saúde do Povo Guarani (Ñandeva e Kayowá) da Reserva Indígena de Dourados

Rodrigo Martins dos Santos
Arnaldo José Ballarini
Kenide de Souza Morais


RESUMO

O presente texto apresenta elementos do sagrado rito Avati Kyry dos Ñandeva e Kayowá da Reserva Indígena de Dourados, subgrupos da etnia Guarani, que apesar de serem diferenciados do ponto de vista linguístico, assemelham-se política e culturalmente, especialmente na terra indígena estudada. O texto inicia-se com a localização da área de estudo e a metodologia utilizada para a sua realização, que envolve relatos orais de uma anciã (ñandeci) Ñandeva, bem como levantamentos bibliográficos de estudos junto aos Guarani daquela reserva indígena. Em seguida inicia-se um excerto a respeito das origens do milho e sua relação com a saúde das culturas indígenas, logo após é focalizado o seu papel nas culturas Ñandeva e Kayowá. A seguir é relatado como se dá a realização do ritual Avati Kyry. Por fim, uma conclusão que enfatiza a relação dessa prática cultural-religiosa com a saúde e sobrevivência dos índios, apoiados nos conceitos de Langon (2008), que afirma que a resolução dos problemas de saúde, na questão indígena, desloca-se do campo da biomedicina para o campo cultural; e que a saúde não se resume ao bem-estar físico do corpo, mas sim, inclusive, ao bem da alma, que não pode ser diminuído apenas pela ausência de doenças. Assim, elementos culturais e religiosos, como o ritual do milho, integrantes da cosmologia Nãndeva e Kayowá, interagem com fatores físicos no seu sistema saúde/doença e cura. Além deste texto, compõe o presente estudo um curta-metragem disponível na internet através do link: http://youtu.be/HkK6fucZyCk.



Palavras-chaveSaúde indígena, religiosidade, Guarani, milho, batismo.

Anexo ao artigo Avati Kyry
Localização da Reserva Indígena de Dourados.

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Artigo originalmente publicado nos anais do VI Encontro Nacional da Anppas, organizado pela ANPPAS, e que ocorreu na UFPA, em 2012. Clique aqui para acessá-lo diretamente no site do Evento.

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