Expansão e retração de fronteiras na Amazônia: passado e futuro

Sawyer¹ coloca que muitos acreditavam que as camadas superiores sempre eram mais "evoluídas" que as inferiores seja na geologia, arqueologia, ou nas ciências humanas (economia, sociologia, história...). Assim, o que estava acima era considerado "superior" em diversos sentidos. Até que foram observadas as rupturas no tempo, os dobramentos, as mudanças no ritmo em que as coisas evoluíam. Isto também foi observado nas ciências humanas e foram chamadas de "crises", ou seja, momentos de grandes mudanças no curso em que se direcionava o arranjo social. Portanto, entendeu-se que as camadas "superiores" nem sempre eram mesmo as mais evoluídas, mas poderiam ter sido postas neste nível devido a algum fenômeno, seja ele natural ou social. Assim, a História pode explicar as origens das configurações do arranjo social de hoje.

No caso da história econômica da Amazônia, ela passou a ser interessante para a metrópole (Europa) a partir do início do século XVII, através do extrativismo das drogas do sertão, tendo como auge a extração da borracha no final do século XIX. Na segunda metade do século XX passaram a ser direcionadas políticas agrícolas à região no sentido de exportação de agro-commodities, levando ao progressivo desmatamento e colonização através da pecuária e da soja. Já no século XXI, começa a ser pensada como fonte de bio-combustíveis. Isto não foge ao movimento agroindustrial brasileiro, alicerçado na agro-commoditie mais lucrativa que vai empurrando a de menor lucro, como uma onda, que termina nas áreas florestadas, estas que por sua vez são pressionadas à incorporação como nova fronteira agrícola.

O Brasil continua sendo um país cujo modelo de desenvolvimento é o mesmo de décadas (ou até séculos) atrás, voltado para a exportação de agro-commodities, no entanto com um mercado ampliado devido a entrada dos países emergentes, mas dominado pelas grandes empresas agro-industriais sediadas nos países centrais, detentoras da tecnologia que é vendida aos países periféricos (produtores). Assim, apesar da globalização do consumo, a dependência técnica garante o domínio do mercado e das políticas globais do setor.

Esquema de deslocamento das agro-commodities no Brasil
(A mais lucrativa – à esquerda – conquista os espaços da menos lucrativa – à direita)
BIOCOMBUSTÍVEIS (cana) -> GRÃOS (soja) -> PECUÁRIA (gado) -> DEMATAMENTO (carvão/madeira)

A questão fundiária continua sendo um grave e antigo problema na Amazônia onde o "grileiro desmata para vender e exime do fazendeiro a culpa pelo dano ambiental". No entanto, um novo padrão de colonização está surgindo, que foge ao tradicional “espinha de peixe” dos anos 1970.

Como na fronteira agrícola de Machadinho do Oeste/RO, onde as estradas são localizadas no interflúvio e abrigam a frente dos lotes, enquanto os fundos ficam voltados para o igarapé, com Reserva Legal coletiva. A unidade familiar também foge aos padrões rurais de família estável com prole numerosa, surge agora com laços familiares mais frágeis (próximo aos padrões urbanos) com pais separados, poucos filhos e maior longevidade. A produção não consegue abastecer o próprio mercado local, e gêneros alimentícios provém grande parte das regiões sul e sudeste do país. Além disso, há uma forte demanda por produtos industrializados como veículos, eletrônicos, etc.

Na lógica do capitalismo a venda da biodiversidade não é atrativa economicamente, tem que haver a comercialização de commodities. Bolsa-floresta de R$ 50,00 tampouco sustenta famílias, apenas mantém a miséria. Os países industrializados não pretendem parar de queimar carbono e mudar seu estilo de vida, preferem a política de Pagamentos por Serviços Ambientais (PSA) com preços reduzidos, assim, dão continuidade a hegemonia econômica e ao controle dos mercados.

Sawyer sugere, por fim, como soluções para o impasse do desenvolvimento sustentável na Amazônia: um melhor aproveitamento do setor agropecuário com redução da poluição e emissões de carbono, uso racional das propriedades e da energia; e a transferência de recursos públicos e privados como através do PPSA (Pagamento por Produtos e Serviços Ambientais) em especial dos PFNM (Produtos Florestais Não Madeireiros), por exemplo.
  
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¹SAWYER, Donnald Rolfe. [palestra] 05 maio 2010, Brasília (Seminários Interdisciplinares, Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília). Expansão e retração de fronteiras na Amazônia: passado e futuro.
 

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