O diplomata e ministro Samuel Pinheiro Guimarães¹, da Secretaria-Especial de Assuntos Estratégicos, afirma que o planejamento estratégico brasileiro, atualmente, adota o modelo de estabelecimento de metas para serem atingidas no ano do bicentenário da independência, e procurando não valorizar muito o modelo de possibilidades de cenários, pois este padrão de planejamento embasado nas “previsões” nem sempre é confiável. Existem diversos exemplos de previsões políticas, sociais e econômicas que não se concretizaram, trazendo diversas surpresas no cenário internacional, como o surgimento da China como mega-potência após o fim da guerra fria, as crises nos EUA, dentre outros. Por isso o governo brasileiro optou pelo estabelecimento de metas a serem atingidas, independente do cenário internacional, mas que proporcionarão ao Brasil mais qualidade de vida e importância global. No entanto, é importante pensar em como serão as estruturas nos diversos setores em âmbito mundial, regional e nacional.
Visão do Mundo para 2022
Os EUA continuarão sendo assimétricos militarmente frente aos outros países, já que suas despesas no setor chegam a 50% do montante global. Os Países continuarão sendo soberanos em seus territórios. Haverá avanço da Biotecnologia e das Tecnologias de Informações. O descompasso de riqueza entre países e intra-países continuarão. As empresas da economia do carbono estarão fazendo forte pressão para evitar a diminuição de suas aplicações e de mercado. A participação chinesa nos mercados se ampliará. União Européia deverá estar mais unificada, tendendo a tornar-se um país. Haverá um esforço entre os outros blocos como NAFTA, UNASUL, CAF, para se fortalecerem e se ampliarem.
As crises econômico-financeiras internacionais vão perdurar e recorrer. Os Estados tendem a gastar menos para gerar energia, no entanto, com as crises envolvendo a questão ambiental as estratégias de investimento deverão mudar. Isto fomenta a crise ideológica neoliberal que defende que o Estado é o grande causador dos maiores problemas da humanidade, culminando do Estado-mínimo que possibilita que os grupos sociais com maior força econômica tenham mais liberdade em suas opções de desenvolvimento: “Cada indivíduo faz e consome o que quiser e as empresas também, seguindo a lógica do mercado”. Esta ideologia intensificou os desastres ambientais e os desníveis sociais, causando diversas crises, inclusive na própria ideologia neoliberal, estabelecendo estratégias que incluem ações do Estado em diversas áreas até que a crise econômica seja superada, e depois se possa voltar ao Estado-mínimo.
América do Sul em 2022
Apesar das afinidades culturais, históricas, étnicas e naturais dos diversos países que a compõe – em comparação a outras regiões do mundo – há uma concentração do poder político e da riqueza a uma pequena elite, que mesmo não estando no governo de seus países, lideram nos legislativos. A unificação destes países também é muito conflituosa, pois mesmo que sejam governos partidariamente próximos, ressentimentos históricos são aflorados em acordos multilaterais regionais, as elites ruralistas também evitam esta unificação e a redistribuição de renda, o que leva a diversas crises políticas e sociais, aumentando as diferenças econômico-sociais entre os países.
O Brasil continuará sendo um país sul-americano politicamente estratégico, pois cerca de 50% de quase tudo da região é brasileiro, seja em dimensão, população, como até mesmo em problemas. Também faz fronteira quase todos os países da região, exceto Chile e Equador, apresentando-se como o terceiro país com mais vizinhos, atrás apenas de China e Rússia. EUA continuam sendo o país mais influente na região, no entanto a China está crescendo como o segundo parceiro em diversos países. Espanha também é forte, mas vem perdendo espaço. A população concentra-se em mega-cidades com periferias pobres e os países apresentam grandes “vazios demográficos”.
As metas para o Brasil em 2022
O Brasil caracteriza-se pelas suas disparidades sociais. Apresenta uma participação importante no comércio exterior mundial, mas tem necessidade de atrair capitais e desenvolvimento tecnológico, apesar dos esforços. Sua vasta população possibilita um amplo mercado interno, sofrendo menos com as crises globais. Também possui um sistema político-financeiro avançado, o que proporciona desenvolvimento do setor produtivo (agropecuária, indústria e comércio). É um país comparável a Índia, China, Rússia e EUA, pois apresentam desafios semelhantes.
Em 2022, com o crescimento da economia, há a necessidade de se ampliar as unidades de produção (fazendas, indústrias, etc.) que demandam mais energia, assim, a participação da energia hidroelétrica deverá ser ampliada, atualmente a geração é de 80 Gw/h, mas o potencial é de 220. As nucleares também serão ampliadas. As metas para o Meio Ambiente é eliminar o desmatamento legal, diminuir as emissões de CO2 e completar os zoneamentos ecológico-econômicos de todos os estados para disciplinar as atividades.
No transportes a meta é um equilíbrio modal entre ferrovias, hidrovias e rodovias, mas para isso deverá investir mais nas duas primeiras, também deverá ser utilizado o transporte aéreo para suprir deficiências de tempo de deslocamento nas áreas onde não haverá muitas opções, como Manaus por exemplo. As prioridades de melhorias das cidades são nos setores de saneamento básico, transporte público (trêns e metrôs) e habitação. Nas comunicações a meta é ampliar a banda larga e acessos via satélite pois são importantes para a integração e participação dos brasileiros. Todo o município deverá ter, pelo menos, uma equipe médica, e a dependência estrangeira na produção de fármacos deverá ser reduzida.
A erradicação do analfabetismo formal e funcional deverá ser atingida, juntamente com o aumento da população universitária para 12 milhões de estudantes. Os centros de formação técnica também serão ampliados, assim como o desenvolvimento das ciências exatas e do número de engenheiros no país, que deverá ser triplicado. Apesar do Brasil apresentar um alto nível na produção de software, peca na de hardware, por isso os semi-condutores serão priorizados no desenvolvimento tecnológico. Além destas, outras metas deverão ser atingidas como igualdade racial e de gênero, acabar com a violência à mulher, situar-se entre as dez potências olímpicas, uma praça de esportes para cada município bem como uma sala de cinema.
Pinheiro diz, ainda, que para que todas estas metas sejam atingidas com êxito, o mais importante é focar na redução dos desníveis sociais.
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¹ GUIMARÃES, Samuel Pinheiro. [palestra] 07 jul 2010, Brasília (Seminários Interdisciplinares, Programa de Pós-Graduação do Centro de Desenvolvimento Sustentável, Universidade de Brasília). Plano Brasil 2022: Bicentenário da Independência.