MUDANÇAS PARA UMA INFLEXÃO NA HISTÓRIA

As revoluções promovidas pela humanidade trouxeram as grandes mudanças na história. Por exemplo o domínio do fogo, a domesticação de animais e plantas, o surgimento das cidades, a língua, a escrita, a revolução industrial, a informática, dentre outras revoluções foram primordiais para as mudanças no rumo do desenvolvimento do ser humano.

Atualmente, no contexto das sociedades de consumo com o paradigma do crescimento econômico como forma de medição de bem-estar das populações, se faz necessário uma nova revolução para uma grande mudança nos rumos da história.

O fato do aquecimento climático global finalmente conseguiu trazer a temática ambiental ao centro das preocupações dos grandes líderes globais. No entanto, uma grande mudança se faz necessária para que seja possível uma inflexão nos rumos da história. Esta mudança deverá ser a transição de uma sociedade do carbono, para a do baixo carbono; que superará a contradição entre crescimento e sustentabilidade. Para isto será necessário o que alguns economistas chamam de “decrescimento feliz”.

Segundo José Eli da Veiga¹ “a superação da era fóssil já começou” e será “uma nova era de progresso e prosperidade” pretendida pelas nações. Mas deverá ser promovida por todos os países, não apenas pelos industrializados.

No entanto, para entendermos sobre em que consiste o decrescimento econômico, é importante lembrar que o crescimento econômico virou objeto supremo das políticas governamentais a partir dos anos 1950, antes a meta era o pleno emprego. Nesta época, foi criado uma convicção coletiva de que “o crescimento econômico será sempre benéfico, sejam quais forem as circunstâncias” (ibdem). No entanto, para que isto fosse possível, foi necessária a utilização cada vez maior dos recursos da natureza, em especial os energéticos (estes majoritariamente de combustíveis fósseis), findando na crise ambiental vivida nos dias atuais.

O grande problema é que se todas as nações seguirem o mesmo modelo de crescimento econômico, não haverá recursos naturais suficientes para suprir esta demanda, por isso a necessidade de um decrescimento. Metodologias de calculo da pegada ecológica, ou footprint² (em inglês), demonstram que se o planeta seguir o padrão de consumo de pessoas com perfil consumista, seria necessário solo, água, ar e biodiversidade equivalente a dezenas de planetas como a Terra.

Herman Daly (apud. VEIGA op. cit.) diz que será necessário a economia global assumir uma “condição estável”, que consiste na “prosperidade sem crescimento”. O sistema econômico, por ser um sistema, não tem condições de crescer infinitivamente, ele tem os seus limites, que será dado ou pela disposição de recursos naturais ou pela capacidade do ambiente absorver os resíduos. O colapso virá cedo ou tarde. E quanto menos preparadas as sociedades estiverem, maiores serão os impactos globais, sejam eles na economia, sejam eles na própria sobrevivência da espécie humana.

O Produto Interno Bruto (PIB), que é o índice utilizado para medir o crescimento econômico, e é calculado pelas mercadorias e serviços sem qualquer distinção se são benéficos ou não para a sociedade, considera “despesas com acidentes, poluição, contaminações tóxicas, criminalidade ou guerras são consideradas tão relevantas como os investimentos em habitação, saúde ou transporte público” (ibdem). Não são computados, por exemplo, a produção de bens não comercializados como as agriculturas de subsistência, as prendas domésticas, ou a economia solidária. Ou seja, nas palavras de Eli da Veiga, “o PIB não foi inventado para medir progresso, bem-estar ou qualidade de vida, mas tão somente uma forma muito grosseira de medir o crescimento da produção mercantil. O Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), surgido como concorrente do PIB per capta, já nasceu obsoleto por não considerar a problemática socioambiental que fez emergir o desenvolvimento sustentável como o principal valor de nossa época”.

Assim, as mudanças necessárias para uma inflexão na história necessitaram pensar nesse decrescimento feliz, que considere novas medidas de se calcular a economia. Que procure utilizar matrizes energéticas de baixo carbono. Que traga uma política fiscal que favoreça  as iniciativas ecológicas, os empregos verdes. Que traga uma mudança na cadeia produtiva industrial, reduzindo o consumo de energia e matéria prima. E principalmente que reduza o consumismo exagerado, que é impraticável à todas as populações do planeta.

Isto tudo deverá ser efetuado centrado numa mudança estrutural nas sociedades globais, onde apenas será eficiente caso seja banido o analfabetismo, e a educação tornar-se, finalmente, primordial nas políticas públicas de todos os países. Assim, poderemos garantir que os interesses da humanidade sobressaiam aos de pequenos grupos que pregam o exclusivismo, e a detenção de toda a energia e recursos do planeta, que só promove a  miséria e os problemas ambientais globais.

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¹ VEIGA, José Eli. Mundo em Transe: do aquecimento global ao ecodesenvolvimento. São Paulo: Ed. Autores Associados, 2009.
² Center for Sustenable Economy. Ecological Footprint: How big is your ecological footprint?  Em 20/12/09-19:40

3 comentários:

  1. A problemática que envolve nosso atual sistema e seus limites vem sendo considerada há algum tempo por profissionais das mais diversas áreas. No entanto, somente agora, frente ao aumento crescente dos impactos relacionados ao aquecimento global e as reduções drásticas em recursos naturais essenciais ao modelo desenvolvimentista vigente é que a temática tomou um lugar mais importante nas discussões dos líderes mundiais.
    E como você explica em seu texto, para uma transformação do cenário atual faz-se necessária uma alteração no modelo de crescimento econômico que não é coerente com a realidade de nosso planeta e seus recursos finitos.
    A grande questão é como proceder essa transformação numa escala suficiente para permitir que os recursos naturais e a humanidade permaneçam a existir e possam conviver de modo que a utilização do primeiro pelo segundo não leve ao colapso de ambos?
    Esse processo depende certamente de uma revolução social, na qual a educação constitui um pilar, porém, sabemos que a complexidade que envolve esse tipo de mudança é muito mais profunda.
    Nossa sociedade foi organizada para nos fazer acreditar que precisamos de um “bem-estar” que muitas vezes não é o que nos faz “estar bem”. O modelo consumista tem tornado a busca pela satisfação, algo inalcançável. Na medida em que os padrões de consumo se alteram, alteram-se os desejos de cada indivíduo, o que gera um ciclo interminável de adquirir, descartar e novamente adquirir em que a felicidade reside no que não se tem e não naquilo que se alcançou.
    O padrão consumista foi implantado profundamente nos conceitos e atitudes dos seres humanos, através da educação, da mídia, e de praticamente todas as atividades que ocorrem em sociedade.
    Nota-se cada vez mais que a medida em que o crescimento econômico sem escrúpulos destrói a biodiversidade de nossos ecossistemas, das nossas culturas e povos, também nós, seres integrantes deste meio sofremos, mesmo que de maneira imperceptível, nossa mente, corpo e espírito estão em conflito constante, o que pode ser provado pelos elevados índices de depressão e outras doenças físicas e psicológicas em nossa sociedade.
    Alterar a percepção popular acerca de seu estilo de vida e das mudanças necessárias em nosso sistema é a base para as transformações que necessitamos. Alcançar tal objetivo certamente é um desafio, já que o arcabouço social permite que a classe dominante controle as demais sem muitas dificuldades, propagando uma ilusão de bem-estar geral que mantém as coisas como estão.
    Contudo, apesar dos insucessos que impusemos ao nosso mundo e a nós mesmos por assumir esse padrão desenvolvimentista e da imensa tarefa que é transformá-lo em algo melhor, muitas ações tem sido desenvolvidas seja individualmente, seja coletivamente, para construir um mundo diferente. Nesse sentido, iniciativas surgem em diferentes áreas demostrando que por meio de novas ou antigas tecnologias e idéias que é possível conviver com a Terra que nos abriga de maneira mais harmoniosa.
    É preciso um sistema com pessoas críticas, cientes das verdades sobre o sistema em que vivemos e também capazes de indicar caminhos, alternativas, que promovam real bem estar e sejam mais justas e equilibradas para todos.
    Se o esforço desenvolvido por nós será suficiente ou se a própria natureza nos forçará a mudar é algo que veremos nos próximos anos.
    Independente disso, é preciso trabalho árduo e acima de tudo, perseverança para transformar a realidade.
    Seu texto está ótimo, o meu comentário vem mais no sentido de complementar as idéias.
    Bom trabalho!

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  2. Adoro essa visão expandida que vc tem; acho interessante... são idéias que temos, mas não externamos e vc faz isso muito bem!
    Temos que conservar o que é nosso, não com egoísmo, mas sempre sustentando para que no futuro, tenhamos a compartilhar com quem virá!

    Abraços e ventos de paz!

    (Lívia Sampaio)

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  3. Concordo com vc e com nossa amiga..
    A visão é essa mesma, pois temos que pensar nas gerações futuaras e tomarmos medidas cabiveis para ostentar projetos sustentaveis em prol de uma natureza sadia, devemos incentivar na escola as novas gerações a criarem uma conciencia mais ambiental.
    abraço xuxa

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