A HISTÓRIA TEM LÓGICA?

Lógica, de acordo com o pensamento aristotélico¹ é uma idéia construída e afirmada através de argumentos ou por comprovações materiais organizadas. Uma idéia lógica, com sentido, busca a comprovação da verdade, a construção do conhecimento.

Dessa maneira, é sim possível ver lógica na história, já que sua elaboração metodológica se dá através de argumentações construídas com base em evidências materiais como os artefatos arqueológicos, ou manuscritos antigos, bem como imagens, sons, livros ou outros tipos de registros que apresentam algum aspecto sobre determinado momento do tempo social manifestado num espaço definido.

Por outro lado por ser a história uma construção de idéias a partir de indícios e registros produzidos pela própria espécie humana em tempos passados (ou atuais), ela é fortemente influenciada pelas ideologias e pela cultura de quem as produz ou as reproduz. Assim, nem sempre o registro é passado de uma forma isenta, mas a partir de um olhar construído por diversos outros olhares.

Ou seja, a verdade buscada pela lógica pode ter diversos aspectos, diversas facetas. A versão de determinado fato histórico pode ser interpretada por opiniões distintas, mudando o sentido do que é a verdadeira verdade. Assim, a verdade é fruto da construção lógica de argumentos, podendo ter diversas facetas, e versões.

Como exemplo: a construção do Brasil enquanto Estado-nação. Alguns intelectuais e defensores do avanço civilizatório para o Oeste, como o nacionalista Rondon², podem dizer que o pensamento ocidental aportado na costa brasileira com os portugueses, marchou na direção do sertão sul-americano, avançando Tordesilhas, e ocupou o que era desconhecido, 'impondo' a força ou através da razão um mundo dito 'civilizado', em prol da construção de uma identidade única, falante da mesma língua, e compartilhando da 'mesma' história. Assim, seguiu a lógica do conquistador, que veio, viu e venceu³. Rondon acreditava que a ocupação do sertão do oeste brasileiro por colonos do litoral e a integração dos indígenas à cultura brasileira seria o verdadeiro progresso da nação brasileira.

Mas se por outro lado, observar através do olhar do conquistado, não será fácil encontrar a mesma lógica, a mesma verdade. A Declaração Solene dos Povos  Indígenas do Mundo diz que esse avanço ocidental, que se deu em toda a América, e em diversas partes do mundo, foi construída “com fome de sangue, de ouro, de terra e de todas as suas riquezas, trazendo numa mão a cruz e na outra a espada, sem conhecer ou querer aprender os costumes de nossos povos, nos classificaram abaixo dos animais, roubaram nossas terras e nos levaram para longe delas transformando em escravos os ‘filhos do Sol’”4.

Há quem considere o legado de Rondon como “a primeira solva em uma guerra de destruição ambiental e etnocídio que continua até nosso dias (...) [No entanto] a motivação de Rondon proveio de outra fonte (...)sonhos de unificação nacional, de um Brasil maior e integrado”5. Eis a dialética da lógica da histórica.

Qual a lógica da história afinal? A lógica do conquistador ou do conquistado? Seria a verdade única, dita por diversos aspectos diferentes, de acordo com a visão lógica do observador? Ou seriam diversas verdades que se manifestam no tempo e no espaço de acordo com a lógica de quem a procura? Como a teoria da física quântica que apresenta o universo como super cordas paralelas, em distintas freqüências, formando uma “malha composta por diversas realidades de energia”6 que são sintonizadas de acordo com as partículas elementares que nas cordas vibram 7. Eis a dialética da lógica da história: a lógica de quem?

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¹ Aristóteles, filósofo grego da Antiguidade.
² Mal. Candido Mariano da Silva Rondon, militar e sertanista brasileiro que implantou um ramal de comunicação entre o sul e o norte no sertão oeste do país, cruzando o então estado do Mato Grosso, onde hoje é o estado de Rondonia. Também criou o Serviço de Proteção ao Índio, atual FUNAI.
³ "Veni Vidi Vinci", declaração do imperador romano Caius Julius Caesar ao conquistar o reino do Ponto na Ásia Menor, atual nordeste da Turquia.
4 Declaração solene dos Povos Indígenas do Mundo. Port Albemi: Conselho Mundial dos Povos Indígenas, 1975.
5 DIACON, T. A. Rondon. São Paulo: Companhia das Letras, 2006, pp 93.
6 Silvânias. (2008). As super cordas da física quântica. Em 22/09/09-19:40.
7 ABDALLA, E. Teoria quântica da gravitação: Cordas e teoria M. Revista Brasileira de Ensino de Física, v. 27, n. 1, p 147-155. Em 20/09/09-22:22.

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