O que sustenta o analfabetismo no Brasil?

Os analfabetos no mundo giram em torno de 850 milhões, 35 milhões deles só na América Latina, onde o Brasil corresponde por mais de 40% desta faixa, fato que fere um dos direitos básicos concedidos pela Constituição Federal, o da Educação. Colocando o analfabetismo como sendo, ainda, um dos maiores problemas do Brasil.

O [atual] Presidente da República [Lula] poderia ter entrado para a história como o presidente que eliminou o analfabetismo do país” diz Cristóvam Buarque¹, que sustenta a idéia de que o problema poderia ter sido resolvido se a educação não tivesse perdido espaço para programas de distribuição de renda centrados na inclusão da população no mercado consumidor. O senador e ex-ministro de Lula diz que se tivesse mantido o vínculo forte da palavra “Bolsa-Escola” – substituída por “Bolsa-Família” – a imagem da educação teria saído muito mais fortalecida, e possivelmente as políticas dessa área seriam muito mais valorizadas pela população como um todo. Pois quando se desvincula a educação e vincula a família no principal programa de distribuição de renda do governo, favorece, assim, uma postura inconsciente de que o mais importante não é a escola e sim ter filhos.

O analfabetismo dificulta a troca de informações e de idéias entre as pessoas, diminuindo drasticamente as possibilidades de aprendizado técnico ou teórico. Isola as pessoas em sua própria sociedade, abrindo espaço para práticas políticas coronelistas que usam do fato da ignorância informativa das pessoas para expandir seu poder político, através de pequenos privilégios aos eleitores, como compra de voto, presentes, ou mesmo ameaçando-os.

O analfabetismo também aumenta o desnível social e econômico. Pesquisas da UNESCO apontam que a pobreza está intimamente ligada ao analfabetismo. Timothy Ireland em seu artigo intitulado “Analfabetismo até quando?”² aponta que “é preciso frisar a importância primordial da alfabetização para a democracia, para a liberdade individual e coletiva e para desenvolvimento socioeconômico e sustentável das nossas sociedades. (...) A educação é um dos melhores investimentos, tanto para a melhoria e dignificação da vida quanto para a sociedade”.

O fato de uma pessoa ter freqüentado a escola não significa que ela foi alfabetizada, pois temos diversos exemplos de analfabetos informais, que concluíram o ensino fundamental, mas não têm condições de realizar operações básicas da aritmética, ou mesmo compreender ou elaborar um período textual. São considerados “cegos sociais” como conceitua Oliveira (2000)³. Isto deixa claro que é necessária uma mudança no próprio sistema educacional brasileiro.

No mundo contemporâneo, a informação corresponde na maior riqueza que o ser humano pode acumular, pois não lhe é roubada tampouco se perde com o tempo. Ser analfabeto é estar condenado a não usufruir das possibilidades que a era da informação pode lhes oferecer.

Mas a quem interessa a manutenção de analfabetos no país? Aos trabalhadores? A classe produtiva? Aos meios de comunicação? Esta é uma pergunta difícil de se responder.

Não é fácil identificar a qual grupo social é vantajoso a manutenção de analfabetos, por outro lado, a poucos importam a sua eliminação pois como nos coloca Ireland (op. cit.) “sinais de recessão são normalmente acompanhados por cortes nos investimentos sociais em áreas mais vulneráveis como educação e saúde e em programas de assistência aos segmentos mais pobres. Se esses gastos já eram pequenos na maioria dos paises da América Latina, corremos o risco de cortes que colocam em perigo os modestos avanços dos últimos anos”. Assim, nas sociedades mais imediatistas como a brasileira, é mais importante garantir que o ensino de qualidade se restrinja aos níveis universitários, que produz informação, idéias e tecnologias, do que ao ensino de base, cujos frutos serão colhidos apenas a longo prazo.

Ireland (ibdem) complementa que “há que se investir mais em políticas sociais de longo prazo destinadas a aumentar a eqüidade e a inclusão. Entre essas políticas sociais evidentemente incluímos a educação no sentido amplo – educação básica, alfabetização e educação continuada para jovens e adultos. Qualquer corte nos orçamentos da educação de adultos, que na maioria dos países não chega a representar 1% do orçamento da educação, seria um retrocesso e um novo ato de exclusão. Mais do que isso, o analfabetismo representa um custo alto e um poderoso obstáculo para o Brasil inserir-se no mundo como nação democrática e cidadã”.

Nestes termos, observamos que não há um ator social específico que deseja o analfabetismo, mas há poucos que o colocam como prioridade na política pública brasileira. Os analfabetos tem menores condições de participar do mercado de trabalho, do mercado consumidor, do usufruto de serviços públicos como bibliotecas, museus, serviços básicos como transporte urbano, ou até mesmo o uso de dinheiro no comércio. Ou seja, o analfabeto é um indivíduo muito mais propício à margem da vida social como um todo.

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¹ Cristóvam Buarque. Ex-ministro da Educação do Governo Lula e atual Senador da República pelo PDT-DF.
² IRELAND, Timothy. (2008). Analfabetismo até quando? In UNESCO-BRASIL. Em 03/12/09-19:50
³ OLIVEIRA, L. A. Analfabetismo: Causas e conseqüências. UEPG: Ponta Grossa, 2000.

2 comentários:

  1. Talvez a manutenção do analfabetismo no Brasil, seja um fator conveniente ao modelo de desenvolvomento captalista, onde se faz necessário a classe desenformada e de fácil manipulação.Assim como fizeram os invasores europeus quando utilizaram o processo de catequização das etinias nativas da terra pra enfraqueçer as comunidades e impedir a resistência do povo...O resultado esta ai...Desordem e retrocesso..Obrigada meu amigo e mestre Aba Porã Verá Popyguá.

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  2. O analfabetismo é mantido pelos próprios analfabetos. Pessoas que sabem ler, escrever e incorporar o que leu e reproduzir do seu modo. Basta vermos aqueles que leem a Bíblia mas não praticam os valores Cristãos, ou deturpam as escrituras para dominar os outros. Será que de fato sabem ler? O homem que se acha sábio é um ignorante, muitos confundem sabedoria com erudição. Por isso, nosso deputado Tirica é o reflexo do Brasil e usou as armas que tinha para entrar na política. Os índios que não sabem ler não são analfabetos, são de cultura oral e tem muito conhecimento de seu universo. Pra mim analfabeto são pessoas que não sabem ler o outro e as necessidades do outro. Tá cheio de analfabeto nas universidades e na política, um bando de caboclo querendo ser inglês. Tora Nelles!!!

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