Contribuições da Antropogeografia e da Geografia Cultural
Rodrigo Martins dos Santos
Mariana Mendes de Sousa
RESUMO
O presente texto se desenvolve em torno da noção de "diversidade
biocultural", cujo sentido apresenta elementos duma provável correlação
entre biodiversidade e diversidade cultural, inclusive numa escala global, onde
há descobertas que indicam similitudes em suas distribuições geográficas. No
Brasil, alguns autores preferem usar os termos sociobiodiversidade ou
biossociodiversidade para designar um sentido semelhante ao de diversidade
biocultural. A diferença está, principalmente, no enfoque, se na diversidade,
ou nos aspectos biológicos, culturais ou sociais. Mas o que todas têm em comum
é a indissociabilidade do que é entendido por cultura do próprio sentido de
natureza. Uma ontologia mais multinaturalista, onde todos os sujeitos (humanos
ou não) compõem um o todo, o cosmos, e são manifestações da natureza; do que
multiculturalista, onde os sujeitos entendem a natureza como um objeto externo
a eles. No entanto, não se trata de ressuscitar um determinismo geográfico ou
natural, tampouco contrapô-lo com um determinismo cultural ou sócio-histórico,
mas sim buscar identificar elementos que nos ajudem a compreender as conexões
bioculturais e socioambientais numa dimensão geográfica. Nesse sentido, o foco
aqui será na diversidade em primeiro lugar, e em seguida, nos aspectos
biológicos e culturais, estes, porém, não necessariamente nessa ordem. Isso
será, sobretudo, num viés espacial, geográfico. Para isso, as categorias
geográficas que mais serão aqui exploradas são a paisagem e o território. Na
primeira parte do presente texto, apresentamos de uma forma suscinta duas
escolas geográficas que tratam dessa temática: a Antropogeografia e a Geografia
Cultural. Na segunda, discutimos algumas categorias de análise e conceitos
desenvolvidos por elas que poderão auxiliar-nos numa melhor compreensão da
diversidade biocultural no espaço geográfico, como os conceitos de área (de
origem e difusão) cultural, paisagem cultural, território e territorialidade.
INTRODUÇÃO
O presente texto se desenvolve em
torno da noção de "diversidade
biocultural" a partir do sentido discutido em Maffi (2001), que apresenta elementos duma provável
correlação entre biodiversidade e diversidade cultural, inclusive numa escala
global, onde há descobertas que indicam similitudes em suas distribuições
geográficas.
No Brasil, alguns autores preferem usar os termos sociobiodiversidade (DIEGUES, 2008
[1996]) ou biossociodiversidade
(CARVALHO, 2000) para designar um sentido
semelhante ao de diversidade biocultural. A diferença está, principalmente, no
enfoque, se na diversidade, ou nos aspectos biológicos, culturais ou sociais.
Mas o que todas têm em comum é a indissociabilidade do que é entendido por
cultura do próprio sentido de natureza. Uma ontologia
mais multinaturalista, onde todos os sujeitos (humanos ou não) compõem o todo,
o cosmos, e são manifestações da natureza; do que multiculturalista, onde os
sujeitos entendem a natureza como um objeto externo a eles (VIVEIROS DE CASTRO, 2004). No entanto, não se
trata de ressuscitar um determinismo geográfico ou natural, tampouco
contrapô-lo com um determinismo cultural ou sócio-histórico, mas sim buscar
identificar elementos que nos ajudem a compreender as conexões bioculturais e
socioambientais numa dimensão geográfica.
Nesse
sentido, o foco aqui será na diversidade em primeiro lugar, e em seguida, nos
aspectos biológicos e culturais, estes, porém, não necessariamente nessa ordem.
Isso será, sobretudo, num viés espacial, geográfico. Para isso, as
categorias geográficas que mais serão aqui exploradas são a paisagem e o território.
Na primeira parte do presente texto,
apresentamos de uma forma suscinta duas escolas geográficas que tratam dessa
temática: a Antropogeografia e a Geografia Cultural. Na segunda, discutimos algumas
categorias de análise e conceitos desenvolvidos por elas que poderão
auxiliar-nos numa melhor compreensão da diversidade biocultural no espaço
geográfico, como os conceitos de área (de origem e difusão) cultural,
paisagem cultural, território e territorialidade.
(...)
(...)
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As propostas metodológicas e
conceituais na Antropogeografia e na Geografia Cultural são de essência
ambientalista e culturalista, simultaneamente. E, portanto, apresentam
instrumental pertinente a estudos da diversidade biocultural no espaço.
É necessário resgatar o papel
holístico e sintético que essas escolas geográficas originalmente propuseram,
para melhor entender o espaço humano, sobretudo as relações intrínsecas
natureza-humanidade. Uma proposta que somente poderia florescer no seio de um
campo dicotômico como é a Geografia.
Esse resgate (ou reafirmação) pode
contribuir para que a Geografia reencontre suas perspectivas multidimensionais
complexas e globalizantes, conforme conclama Jacques Lévy. Pois a Geografia,
essa bela incógnita como define Jean-Paul Allix, parece se envolver em tudo, na
busca de discernir melhor como é o planeta, e como ele funciona.
Artigo publicado nos anais do XIV ENANPEGE - Encontro Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia, organizado pela ANPEGE - Associação Nacional de Pós-Graduação e Pesquisa em Geografia; e que ocorreu na cidade de Campina Grande-PB, em 2021. ISSN 2175-8875.
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