Linguagem audiovisual¹ com Takumã Kuikuro²


Quando um Kuikuro era filmado, tinha medo de não morrer mais e ficar pra sempre na Terra. Mas logo depois que viram o primeiro filme pronto, sempre pedem para serem filmados: querem se ver no telão. Querem viver para sempre!

Com estas palavras o jovem cineasta Takumã abre sua prática oficina de áudio-visual. Ele nasceu no Parque Indígena do Xingu e é aluno da Escola de Cinema Darcy Ribeiro no Rio de Janeiro. Já dirigiu alguns filmes, dentre eles o “Hiper Mulheres” vencedor de três Kikitos no Festival de Gramado, e outros não menos interessantes como “O dia em que a lua menstruou” e “Cheiro de pequi”. Os três filmes foram projetados durante a oficina.
Ele diz que o vídeo é um importante instrumento que pode ser usado como denúncia e documento. Registrando histórias, mitos, rituais, contos, rezas, canções... Sua oficina foi dividida da seguinte forma:

  1. Manuseio da câmera:
    1. apresentou técnicas de uso e manipulação do equipamento;
    2. Também apresentou algumas especificações básicas de equipamentos que podem ser usados para um bom resultado final.
  2. Projeção de Material:
    1. apresentou três filmes:
      1. As hiper mulheres;
      2. O dia em que a lua menstruou;
      3. Cheiro de pequi.
  3. Função e importância:
    1. Dissertou sobre a importância do vídeo-documento:
      1. salvaguarda da cultura e língua;
      2. Intercâmbio entre povos;
      3. Divulgação cultural;
      4. Documento.
  4. Treinamento e documentadores:
    1. necessidade de se capacitar o pessoal envolvido.
  5. Como usar os equipamentos:
    1. cuidados (zelo);
    2. proteção contra intempéries (sol, chuva, umidade, poeira);
    3. cuidados com a lente (não tocar, nunca!).
  6. Câmera nas mãos:
    1. iniciar gravação entre 10 e 15 segundos antes do fato de interesse;
    2. Escolha da mídia;
    3. Programa de edição, finalização;
    4. Qualidade da gravação:
      1. SP (maior definição de imagem, melhor qualidade de som, usa mais espaço na mídia);
      2. LP (qualidade reduzida, usa menos espaço na mídia).
  7. Explorando a câmera:
    1. Bater branco:
      1. Sair do modo automático;
      2. Necessário para manter a cor das cores reais;
      3. Exposição à luz: diafragma e íris.
  8. Preparando a gravação:
    1. Posicionamento da câmera;
    2. Uso de tripé;
    3. Divisão em cenas: imaginar o produto terminado.
  9. Gravando:
    1. Quando o alvo está em movimento (pessoas caminhando) a câmera pode caminhar também;
    2. Quando alvo está parado, a câmera deve ficar parada;
    3. Nem sempre uma estória começa no início dela:
      1. A estória pode começar no meio ou no fim, ou com alguém contando;
      2. A edição pode inverter a posição das cenas.

Confesso que muitas surpresas tive com a presença desse jovem Kuikuro, a facilidade com que ele lida com a tecnologia, sua percepção da sétima arte (o cinema), a sensibilidade, tudo isso me impressionou.

Takumã representa o quanto os indígenas são capazes como qualquer outra pessoa, basta ter oportunidade, incentivo, sem preconceitos.

Eu sou um amante do cinema e do áudio-visual, fiz alguns cursos de fotografia e participei de exposições. Tenho muito apreço às pessoas que sabem distinguir a singeleza que é a luz, sua capacidade de construir imagens por meio de equipamentos técnicos produzidos pelo homem.

O cinema é a arte de maior tecnologia, envolve fotografia, som, imagem, movimento, cores, paisagens, e diversos outros elementos técnicos, artísticos ou da natureza.

Aprendi bastante com o pouco tempo que tive com esse jovem xinguano, também pude relembrar alguns conceitos que já não usava a algum tempo, devido ao fato de ter deixado a fotografia para seguir a carreira ambiental com intervenção social.

Esta oficina fez reacender uma chama que havia dentro de mim, a de praticar a fotografia. Após ela eu tomei a decisão de comprar uma câmera novamente, e voltar a fazer meus ensaios fotográficos, e porque não, cinematográficos.

No futuro pretendo fazer um curta-metragem, para testar algumas técnicas que aprendi com Takumã e outros professores da sétima arte.


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¹ Tema de aula na disciplina "Questões Indigenistas na Contemporaneidade", 1º semestre de 2012. Mestrado Profissional em Sustentabilidade junto a povos e terras indígenas, Centro de Desenvolvimento Sustentável (CDS)Universidade de Brasília (UnB).
² Takumã Kuikuro, cineasta, é indígena xinguano da etnia Kuikuro.

2 comentários:

  1. Gostei demais de ler esse artigo, me lembrar desse jovem cineasta indígena. Poder expressar através das imagens um olhar, uma forma de ver e perceber o mundo é maravilhoso! Um caminho para os diálogos necessários.Abção Veronica

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    1. Maravilha Verô! O audio-visual é mesmo um caminho importante a ser explorado por nossos irm!ao indígenas. Abraços!

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